Há quem se queixe

Nós portugueses dizemos que gostamos do sol mas não gostamos.

É oficial. Praia Grande, Domingo à tarde, alguém a queixar-se do calor. Ainda agora arrancou a Primavera e o adjectivo mais popular já é insuportável.

Há zaragatas na esplanada do Gonçalves. As mesas da frente pediram para erguer chapéus para protegê-los do sol. Nós portugueses dizemos que gostamos do sol mas não gostamos. Adoramos é a sombra - e não há sombra sem sol.

Estes chapéus tapam a vista do mar. Em vez do mar ficamos a admirar o logotipo da cerveja Sagres. Mas não é por isso que os esplanadeiros se desentendem: é porque os chapéus criam uma nova camada de sombra àqueles que se sentaram nas mesas onde está sempre sombra. Nós estamos entre os visados: ficamos com frio.

Não se pode ter tudo - esta é a grande verdade, banal para o resto da humanidade, que nós nos recusamos a aceitar. Quero que esteja um sol de Junho em Março mas não pode é aquecer-me as mangas da Lacoste. Quero almoçar cá fora a um Domingo mas sem mais ninguém, só com as gaivotas e a sombra mais fresca do sol mais tropical.

A partir da primeira queixa oficial do calor já são permitidas observações como “já esteve melhor” e, obviamente, “bom, bom esteve no primeiro fim-de-semana da Primavera. Que saudades!”

O próximo alerta, costumeiro só no Verão, será dado pelo primeiro português que afirme que “só se está bem dentro de água”.

É com estas pequenas sinalizações que marcamos o caminho do tempo e das nossas permanentes insatisfações com ele. A intensidade dos nossos desacordos térmicos é uma das provas que o tempo não pára quieto.

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