Almoçar bem
Perguntem-me como é que se sente um homem a almoçar polvo e grelos perfeitos ao ar livre rodeado pelas três mulheres que mais ama. Muito, muito, muito bem.
Há um pequeno café onde vou há mais de quarenta anos comer navalheiras e percebes. Levei lá as minhas filhas mal começaram a andar e, ao longo dos anos, quando lá vou, a dona do café, que é uma grande cozinheira, faz-me um polvo cozido com grelos que atinge sempre a perfeição.
É preciso avisar com dois dias de antecedência mas quando chega a hora de almoçar parte do prazer vem de comer num café onde não se servem refeições, lá fora, com os transeuntes boquiabertos e a apontar: “olha aqueles estão a almoçar no café!”
Na primeira tarde da Primavera, com o sol já a picar e a brisa a ser bem-vinda, fui lá almoçar com as minhas filhas e com a Maria João: as três mulheres que mais amo neste mundo.
Agora perguntem-me como é que se sente um homem a almoçar polvo e grelos perfeitos ao ar livre rodeado pelas três mulheres que mais ama. Muito, muito, muito bem.
A única diferença é que quando tinham três anos gostavam mais do bolo de chocolate e agora gostam mais de bolo de amêndoa. De resto estamos ali a rir e a falar de tudo e mais alguma coisa como sempre fizemos. A Tristana é um prato a imitar as declarações melodramáticas da filha Francisca, a Sara é exímia a imitar a imperiosa teatralidade do filho Vicente.
Quando se juntam estas duas drama queens - tratam-se por primos-irmãos - fazem lembrar os salamaleques de Oscar Wilde e Sarah Bernhardt na estreia de Salomé.
Já as mães, sendo gémeas idênticas e muito próximas, nunca se cumprimentam, como se nunca se tivessem separado.
“Não é preciso”, explicam.