Simone Biles, a melhor americana de sempre, diz “adeus” em Tóquio 2020

As dores no corpo são mais fortes do que a vontade de competir e a "pequena fada" vai para Tóquio com o objectivo de chegar ao top-3 de medalhas olímpicas.

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Biles nos Jogos Olímpicos do Rio de Janeiro. Reuters/MIKE BLAKE

Dificilmente poderia haver maior carga simbólica. Simone Biles, a melhor ginasta americana da história – para muitos, a melhor de sempre a nível mundial –, terminará a carreira nos Jogos Olímpicos 2020, em Tóquio. A história encarregou-se de colocar Estados Unidos e Japão tête-à-tête, no belicismo do século XX, o desporto encarregou-se de os juntar no adeus à “pequena fada” da ginástica, nos Jogos Olímpicos.

“Planeio que os Jogos de Tóquio sejam os meus últimos. Sinto que o meu corpo está a cair aos pedaços. Tenho dores durante grande parte do tempo”, justificou a ginasta, à Sky Sports, já depois de ter chegado a detalhar o dia-a-dia: “A dor é algo com que vivo e isso é um pouco estranho para a minha idade. Parece estranho quando não tenho dores (…) já rasguei um dos gémeos duas ou três vezes, parti uma costela e tenho um dedo do pé que está destruído em cinco pedaços desde os últimos Jogos”.

Depois de uma infância difícil – passou fome com a mãe toxicodependente – e de uma adolescência de abusos e assédio na ginástica, Biles entrou na idade adulta como estrela maior da ginástica mundial e um dos grandes nomes do desporto americano. Há quem diga que, em 2016, no Rio de Janeiro, nasceu a “nova Nadia Comaneci”, tal foi o impacto de Biles no desporto mundial, em geral, e na ginástica, em particular.

Em 1976, o placard electrónico dos Jogos de Montreal não estava preparado para escrever o 10.00 atribuído a Comaneci, a primeira nota 10 da história da ginástica. Em 2019, o desporto parece ainda não estar preparado para escrever no “placard electrónico” o “adeus” a Biles. Com apenas 22 anos, a americana, que já dá nome a uma sequência de ginástica - o “The Biles” - anunciou o final da carreira apenas quatro meses depois de ter colocado o nome em mais uma lista de recordes, nos Mundiais de ginástica, em Doha.

Vinte medalhas em Mundiais e cinco medalhas olímpicas depois, Biles vai para Tóquio como a ginasta mais medalhada da história – ultrapassou a russa Khorkhina, em Doha 2018 – e com o objectivo de terminar a carreira no top-3 de medalhas olímpicas – poderá chegar às dez, mas ficará longe das 18 de Larisa Latinina.

Os especialistas dizem que Biles tem tudo: alegria, uma técnica única, amplitude, explosão, firmeza, segurança e competitividade. O problema é que, para além de tudo isto, Simone Biles tem dores. E tem, ainda, uma juventude para viver.

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