Crianças em contentores no Hospital São João transferidas até ao Verão para o edifício

Conselho de administração interino considera que existem condições para as obras da nova ala pediátrica avançarem no segundo semestre deste ano. Deverão estar concluídas no final de 2021.

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Paulo Pimenta

O conselho de administração interino do Hospital de São João, no Porto, avançou esta quarta-feira que, até ao final do verão, as crianças internadas em contentores serão transferidas para o edifício principal e que as obras da ala pediátrica deverão estar concluídas em 2021.

“Tem sido nossa preocupação, e da tutela, em progressivamente retirarmos as crianças dos contentores”, onde funciona actualmente a pediatria, afirmou na Comissão Parlamentar de Saúde José Artur Paiva, que está a presidir interinamente desde Fevereiro o Centro Hospitalar Universitário de São João (CHUSJ).

O ex-director clínico do hospital adiantou que estão a ser feitas obras no piso oito do hospital, o que vai permitir “a deslocalização de um serviço que também está em contentores, que é a neurocirurgia, para esse piso” e com isso agrupar toda a hemato-oncologia no mesmo local.

“Nós poderemos, e é este o plano, colocar toda a área cirúrgica da pediatria em áreas em que há deslocalização destes serviços, nomeadamente no piso quatro que poderá vir a conter no final de Maio toda a área cirúrgica da pediatria”, adiantou José Artur Paiva na comissão, onde foi ouvido a pedido do CDS-PP a propósito da renuncia do antigo presidente do conselho de administração em continuar no cargo após o fim do mandato (que ocorreu no final do ano passado).

O actual presidente avançou ainda que, até ao final do Verão, a oncologia pediátrica poderá também ser deslocalizada para o interior do hospital. “Com isso o que restará do edifício externo é a parte de alvenaria. Ou seja, não terá a parte dos contentores”, afirmou José Artur Paiva.

Questionado pelos deputados sobre a construção da ala pediátrica, José Artur Paiva afirmou que a história da ala pediátrica tem “um passado tortuoso, complicado e difícil, uma estrada de pedras”. “Mas eu creio que, acreditando na bondade das pessoas e acreditando que todos queremos o bem das crianças, dos pais das crianças, das famílias e dos profissionais” que estão criadas as condições para “o fim dos contentores no Verão deste ano e a ala pediátrica pronta em 2021”.

Para José Artur Paiva, o momento é de “felicidade e estabilidade”, porque “finalmente estão constituídas as condições para com co-financiamento público poder ser construída a ala pediátrica do Centro Hospitalar São João”. Foi deslocada uma verba para a conta do hospital de 19,8 milhões de euros e há também um valor de três milhões de euros que engrossou o capital social e que a administração pediu que fosse adjudicado à ala pediátrica.

José Artur Paiva adiantou que a obra deverá arrancar no segundo semestre deste ano, estando previsto que termine dois anos depois. Ou seja, no final de 2021.

Relativamente à tomada de posse da parcela de imóvel, José Artur Paiva disse que decorridos os três meses no início de Março e não tendo havido entrega do terreno por parte da Associação Joãozinho, o hospital comunicou oficialmente na semana passada àquela associação que tem um prazo de 10 dias úteis, em relação à emissão da carta, para entregar o terreno.

“Estamos certos que o interesse de toda a gente, porque as pessoas são de bem, é a construção da ala pediátrica e estando assegurado o tripé [financiamento público, projecto de execução da obra e a posse da parcela de imóvel] não vemos razão para que o projecto não seja executado”, vincou.

O Parlamento aprovou em 27 de Novembro, por unanimidade, a proposta de alteração do PS ao Orçamento do Estado para 2019, de forma a prever o ajuste directo para a construção da ala pediátrica. Medida que o presidente do conselho de administra considera que vai permitir agilizar todo o processo e cumprir os prazos previstos para o início da construção.

Menos investimento desde 2011

Os deputados questionada a administração interina sobre os motivos que levaram o anterior presidente, António Oliveira e Silva, a dizer que não estava disponível para se manter em funções. O Conselho de Administração do CHUSJ, que terminou o mandato no passado dia 31 de Dezembro, pediu no início de Janeiro a renúncia de funções.

Na altura, António Oliveira e Silva explicou que a decisão pretendeu “facilitar a sua substituição da forma mais rápida possível”. A mesma informação foi dada esta quarta-feira por José Artur Paiva, já que o anterior presidente não esteve presente na audição.

“A renúncia do presidente do conselho de administração foi explicada por ele próprio, no sentido de que mandato terminou a 31 de Dezembro de 2018 e tinha a visão, da parte dele, que não queria continuar o mandato. Tinha a assunção de alguns compromissos no local de trabalho a que pertence, à qual adicionava a visão que sendo o CHUSJ uma das 11 instituições com o novo modelo de financiamento que caminha para a autonomia, seria o melhor ser o novo conselho de administração iniciar essa fase nova”, disse o presidente interino.

Os deputados questionaram a administração sobre os níveis de investimento e se eram suficientes para as necessidades da unidade. José Artur Paiva referiu que o investimento “teve um corte em 2011”. Segundo o responsável, o CHUSJ tinha antes de 2011 níveis médios anuais de investimento de “cerca de 50 milhões”, que depois de 2011 passaram para “entre os cinco e os dez milhões”.

O responsável disse, contudo, que “2018 não foi para o São João um ano dramático”, apesar das medidas que levaram a um aumento de custos como a reposição das 35 horas semanais e o fim dos cortes nos valores das horas extraordinárias. José Artur Paiva acrescentou que os custos cresceram naquele ano 5%, mas que registaram uma quebra de 3% nas receitas por causa da diminuição das cirurgias convencionais, afectada pela greve cirúrgica.

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