Presidente da CCDR Centro negou co-autoria de cartas difamatórias sobre antecessor

Ana Abrunhosa disse ao tribunal que se candidatou ao cargo porque Pedro Saraiva não concorreu.

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Nelson Garrido

A presidente da Comissão de Coordenação e Desenvolvimento Regional do Centro (CCDRC), Ana Abrunhosa, disse nesta quarta-feira, no tribunal de Coimbra, que só concorreu ao cargo depois de ter a certeza que o seu antecessor não o faria.

Se o antecessor da actual presidente da CCDRC, Pedro Saraiva, concorresse ao cargo, ela não se teria candidatado, em 2014, e só o fez depois de ter a certeza que Pedro Saraiva não concorreria, afirmou Ana Abrunhosa, durante a sessão do julgamento em que ela e o ex-marido, Luís Filipe Borrego, são arguidos.

Ana Abrunhosa e Luís Filipe Borrego, divorciados, são acusados pelo Ministério Público (MP) como alegados co-autores dos crimes de difamação e denúncia caluniosa do anterior presidente da CCDRC, Pedro Saraiva, em 2013/14. Em causa estão cartas anónimas enviadas a várias entidades, incluindo o então primeiro-ministro, vários ministros, o procurador-geral da República e o director da PJ de Coimbra. “Nessa carta, não assinada, os arguidos, fazendo-se passar por um grupo de empresas de consultadoria e de cidadãos da região, imputavam factos falsos e emitiram juízos de valor lesivos da honra, consideração e bom nome do ofendido”, diz o Departamento de Investigação e Acção Penal de Coimbra. O texto, que o MP concluiu ter sido redigido num computador a que Luís Filipe Borrego tinha acesso, no Instituto Superior de Engenharia de Coimbra, dizia que Pedro Saraiva era dono de empresas de consultoria e que aprovava projectos feitos pelas suas sociedades e que atribuíra centenas de milhares de euros em contratos de prestações de serviços feitos por ajustes directos a empresas “amigas”.

Os arguidos, ambos docentes do ensino superior, decidiram só usar da palavra na fase final do julgamento, isto é, na sessão que antecede as alegações finais, que nesta quarta-feira ficaram agendadas para 3 de Abril.

Questionada pelo tribunal, Ana Abrunhosa disse que antes de se ter candidatado ao lugar, em 2014, tinha pensado abandonar a CCDRC (então era vice-presidente), como o revela o facto de, pouco antes, ter concorrido a diretora-geral das Infra-estruturas e Equipamentos.

O facto de ter concorrido àquela direção-geral foi, aliás, o que lhe permitiu candidatar-se à liderança da CCDRC num curtíssimo espaço de tempo e no limite do prazo para o fazer, esclareceu, referindo, designadamente que o cargo de presidente da CCDRC é equiparado ao de diretor-geral e que o currículo que apresentou foi, naturalmente, o mesmo para as duas situações.

Acabou por mudar de ideias, designadamente por ter sido incentivada a concorrer à liderança da CCDRC, por pessoas, como, por exemplo, o então presidente do Conselho Regional do Centro, Álvaro Amaro.

Já no início do julgamento, o defensor da presidente da Comissão de Coordenação, Alfredo Castanheira Neves, tinha sustentado que nada permitia concluir que, como afirma o MP, a arguida “quis lançar uma suspeita sobre a honorabilidade do ofendido, para pôr em risco a sua permanência à frente da CCDRC”.

O facto de Ana Abrunhosa ter ascendido ao cargo antes ocupado por Pedro Saraiva deve-se “apenas e só ao próprio mérito e por via de um concurso a que se submeteu”, enfatizou Castanheira Neves.

“Eu nunca seria uma escolha natural do Governo [PSD/CDS]”, defendeu Ana Abrunhosa, salientando que não foi “uma escolha política” e que chegou à presidência da CCDRC “por concurso”. Esta situação foi difícil para Pedro Saraiva, “mas para mim também”, disse Ana Abrunhosa, afirmando-se “aliviada” por o julgamento estar a chegar ao fim e independentemente da decisão que o tribunal vier a tomar.

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