O candidato, o ordenado, a cadeira do bastonário e a vontade de se sentar nela

As suas acusações são uma afronta a todos os colegas que abnegadamente dispuseram do seu esforço e tempo, para ter um organismo representante de todos os psicólogos.

O professor Rui Abrunhosa, no seu artigo de opinião no PÚBLICO de 18/3/19 com o título “Para que serve uma Ordem dos Psicólogos”, tece um conjunto de afirmações, que classifica de factos, em que procura fazer um assassinato de carácter à minha pessoa, no melhor estilo populista. Aproveitando uma notícia recente sobre o vencimento do bastonário da Ordem, em Assembleia Geral, torna presente decisões tomadas pela OPP durante os meus mandatos, e procura ainda atingir a presente direcção e órgãos, largamente eleitos pelos psicólogos portugueses.

Perante a gravidade das conclusões, poderia o prof. Abrunhosa ter sido rigoroso na sua busca dos supostos factos. Comece-se por dizer que todos estes valores foram aprovados em Assembleia de Representantes da Ordem, com toda a legitimidade, clareza e escrutínio ao longo dos anos.

A decisão do ordenado do bastonário teve um referencial no de reitor das universidades portuguesas, pois o presidente do Conselho de Reitores é equiparado na hierarquia da representação do Estado aos bastonários. Acontece que o facto de eu ser professor auxiliar, e não catedrático na altura (o que teoricamente me permitira candidatar a reitor), nada tem que ver com o assunto, pois um candidato a bastonário pode tanto vir do mundo académico como profissional, e o que está em causa não é o suposto diferencial entre os dois ordenados. Estranho, por isso, a obsessão com os cálculos do ordenado, quando parte de premissas completamente erradas.

Esta argumentação foi apresentada e aceite pelos representantes dos psicólogos, na primeira assembleia da Ordem. Este referencial para o ordenado é consoante a importância relativa que é dada à figura de bastonário – enquanto representante dos seus pares – mais do que à pessoa que assume o cargo. De forma a permitir uma discussão aberta e livre retirei-me da sala, deixando aos meus colegas a total liberdade de concordar ou não com o proposto, como sempre o tenho feito em assuntos que possam envolver condições pessoais.

Estranho, por isso, o afastamento que o prof. Abrunhosa refere ter tido relativo à Ordem dado que participou continuadamente, como secretário da mesa da Assembleia, nas várias assembleias, e não lhe são conhecidas intervenções discordantes, tendo até votado solidariamente com os membros da minha lista, de que fazia parte, na maioria das ocasiões. Aliás, essas discordâncias poderiam ter facilmente sido expressas, pois mantinha comigo uma relação que facilmente lhe permitiria expressar as suas opiniões, se tivesse tido a coragem de o fazer. Se afastamento houve, foi apenas nos momentos finais do mandato, para depois se apresentar como candidato às eleições, disputando-as comigo.

Quanto ao arrastamento dos salários de toda a direcção, dá a entender que houve um pagamento de salários a todos os membros da mesma, quando não era de todo o caso, dado que a maioria dos membros não recebia qualquer tipo de vencimento. Mais uma vez, os seus “factos” podem ser facilmente verificados nas contas da Ordem, devidamente aprovadas e sujeitas ao Tribunal de Contas.

Para cúmulo, refere o já famoso argumento da “cadeira do bastonário” (agora avaliada apenas em 3000 euros, em tempos o boato colocava-a no valor de 5000), para dar como exemplo da natureza do despesismo. Para além de ser uma fabricação completa, já utilizada em altura eleitoral, é a de mais fácil verificação nas despesas efectuadas. Mas, os “factos” do prof. Abrunhosa sobrepõem-se aos documentos de despesa, à aprovação das contas pelos representantes dos psicólogos e ao escrutínio pelas entidades competentes. Será mesmo que, como dizia Joseph Goebbels, uma mentira repetida mil vezes se torna verdade?

Pode o prof. Abrunhosa continuar a sua via de calúnias e difamações, que actas, os documentos, e a memória das pessoas tornarão evidente onde pretende chegar. O prof. Abrunhosa tem todo o direito às suas opiniões, mas não tem direito aos “seus factos”. As suas acusações são uma afronta a todos os colegas que abnegadamente dispuseram do seu esforço e tempo, para ter um organismo representante de todos os psicólogos. Por isso, que o prof. Abrunhosa confunda as pessoas que pretende atingir com a Ordem, como refere no título do seu artigo, é o bom exemplo de como não olha a meios para os seus ataques pessoais, não hesitando em pôr em causa o organismo representante de todos os psicólogos portugueses – que devia respeitar – para atingir os seus fins. Os factos serão esclarecidos as vezes que forem necessárias, já as opiniões que professa guarde-as para momentos eleitorais em que pretenda substituir a razão pela demagogia.

Fundador e 1º bastonário da Ordem dos Psicólogos Portugueses

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