Passes sociais entre a “revolução” e o “fundo dos infernos” nos transportes

PCP e BE reclamaram para si os louros dos descontos nos transportes públicos.

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Debate quinzenal foi dominado por temas económicos e transportes LUSA/ANTÓNIO COTRIM

O primeiro-ministro diz que é uma “verdadeira revolução”, PCP e BE reclamam para si os louros da medida mas, tal como o PSD, perguntam: onde está a oferta de transportes? A redução do preço nos passes sociais esteve até ausente do discurso inicial de António Costa no debate quinzenal desta terça-feira. António Costa queria falar da boa prestação da economia e assegurou até que Portugal “vai continuar a crescer, a crescer acima da média europeia”.

Logo na primeira interpelação ao Governo, contudo, o PSD puxou o assunto da redução dos preços dos passes nas áreas metropolitanas de Lisboa e Porto. Fernando Negrão, líder da bancada social-democrata, acusou o Governo de esquecer as outras regiões do país que vão pagar o passe único das Áreas Metropolitanas “sem terem direito a nada”. E acrescentou um outro argumento: o PSD “é a favor” do passe único, sim, mas “do verdadeiro, aquele que oferece, juntamente com o passe, os transportes para os portugueses usarem”. António Costa rebateu as críticas e respondeu com números: o actual Governo investiu “cinco vezes mais nos transportes públicos” do que o anterior executivo PSD/CDS.

Mais tarde, em resposta a Heloísa Apolónia, do PEV, que exigiu mais investimento na ferrovia, o primeiro-ministro transformou o esforço feito pelo actual Governo na aquisição dos novos comboios e barcos, já em concurso, numa imagem: “Nós estamos a vir do fundo dos infernos relativamente ao sistema de transportes públicos”.

Assunção Cristas contornou a medida concreta dos descontos dos passes sociais e preferiu perguntar sobre se o Governo vai manter a neutralidade fiscal face aos aumentos dos combustíveis. O primeiro-ministro respondeu a aposta é manter a “neutralidade carbónica”.

À esquerda do PS, PCP e Bloco assumiram ter “orgulho” nesta redução do preço dos passes, mas lembraram a falta de investimento na ferrovia. “Valeu a pena lutar e o PCP orgulha-se de ter dado um contributo decisivo para que fosse alcançado este objectivo”, sublinhou Jerónimo de Sousa.

Já antes a coordenadora do BE, Catarina Martins, tinha saído em defesa da redução dos preços dos passes e atacou até a direita, lembrando que “eleitoralismo” – uma acusação que tinha sido lançada pelo PSD - foi fazer a simulação no portal das finanças sobre a devolução da sobretaxa de IRS. “Esta medida é típica desta solução governativa: primeiro porque travou as privatizações da direita e depois porque devolve rendimentos, salários e pensões”, defendeu. Catarina Martins desafiou o Governo a fazer chegar o passe único a todos os movimentos pendulares. O primeiro-ministro já tinha referido que todas as comunidades intermunicipais fizeram propostas para baixar os preços dos transportes, o que permite abranger 85% da população.

O tema da saúde é ponto de honra nas intervenções da líder do CDS-PP nos debates quinzenais. Cristas, que na passada semana fez um roteiro da saúde alternativo ao de Costa (a centrista visitou instituições com problemas, o primeiro-ministro fez inaugurações), descreveu um cenário de “falta de profissionais e de investimento – o pior ano de sempre foi o passado –, tempos de espera demasiado longos, dívidas a aumentar”. Dos profissionais, ouviu que o SNS “está a morrer” e, apontou, o responsável “é este Governo e quem o apoia”.

Assunção Cristas quis saber por que razão podem agora os hospitais contratar profissionais mas não médicos. Na resposta, Costa explicou que os médicos têm um regime próprio de contratação, através de dois concursos anuais. E, num tom mais brando que noutros debates, deu a volta às críticas: “Estou de acordo consigo: temos mais nove mil profissionais e não chegam e por isso temos que continuar a contratar. E lá iremos chegar.” Mas quando Cristas criticou a falta de enfermeiros, Costa ripostou: “Em vez de andar a apoiar as greves dos enfermeiros devia era dizer-lhes que consigo continuavam a trabalhar 40 horas semanais.”

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