Rei da Arábia Saudita terá reduzido poderes do príncipe herdeiro

Tensão na corte saudita por causa do assassínio do jornalista Jamal Khashoggi esfriou relações entre o rei e o seu filho. Mohammed bin Salman faltou a várias reuniões importantes este mês.

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Mohammed bin Salman Reuters/ANDRES MARTINEZ CASARES

As consequências do assassínio do jornalista Jamal Khashoggi no consulado saudita em Istambul, em Outubro do ano passado, podem ter azedado as relações entre o rei Salman e o seu filho, o príncipe herdeiro Mohammed bin Salman. Segundo o jornal The Guardian, o príncipe faltou a várias reuniões importantes desde o início do mês e terá perdido alguma da sua autoridade nas áreas económica e financeira.

No início da semana passada, o rei Salman nomeou o seu conselheiro de segurança nacional, Musaed al-Aiban, para tomar decisões sobre investimentos no país, diz o jornal britânico. O príncipe herdeiro não esteve nessa reunião, apesar de o rei ter pedido a sua comparência.

Mas este cenário de profundas divergências no topo da coroa saudita não é consensual entre os observadores mais atentos às actividades na corte.

Segundo o Guardian, alguns especialistas sublinham que o rei Salman esteve sempre ao lado do seu filho enquanto o caso do desaparecimento do jornalista saudita, no dia 2 de Outubro do ano passado, foi avançando até se confirmar a sua morte. O reino da Arábia Saudita negou sempre a acusação de que foi o príncipe herdeiro quem ordenou o assassínio, mas os serviços secretos turcos e norte-americanos dizem que a ordem foi dada por ele.

A reacção da comunidade internacional a este caso fez com que a Arábia Saudita tivesse perdido contratos de investimento milionários, e é isso que estará na base da tensão entre o rei e o príncipe herdeiro.

Mas alguns especialistas, como Madawi al-Rasheed, professora na London School of Economics, dizem que é exagerado falar-se numa cisão no topo da corte – apesar de tudo, Mohammed bin Salman já é, na prática, o rei da Arábia Saudita.

Mesmo no auge das críticas internacionais, “o rei Salman quis percorrer o país com o filho ao seu lado, enviando uma mensagem forte de que ele mantém o total apoio da corte”, disse Madawi al-Rasheed num artigo de opinião publicado no site Middle East Eye, com sede em Londres.

Nomeações polémicas

Ainda assim, a ausência do príncipe herdeiro saudita de várias reuniões importantes desde o início do mês levou outros especialistas a dizerem que o ambiente na corte se degradou.

Nas duas últimas semanas, Mohammed bin Salman faltou a duas reuniões do conselho de ministros, chefiadas pelo rei, e também não esteve presente nas conversações com o ministro dos Negócios Estrangeiros russo, Sergei Lavrov.

No mesmo período, o príncipe herdeiro faltou também a uma reunião com os responsáveis da economia e finanças; a um encontro entre o rei e o grande mufti; a uma reunião com o director da Organização Mundial de Saúde; e a reuniões com o primeiro-ministro do Líbano e com os embaixadores da Índia e da China.

Contactada pelo Guardian, a embaixada da Arábia Saudita em Washington D.C. recusou-se a fazer qualquer comentário sobre estas ausências.

Segundo o jornal britânico, o rei Salman ficou também muito desagradado com as decisões tomadas pelo príncipe herdeiro durante a sua viagem oficial ao Egipto.

Durante a ausência do rei do país, e assumindo a função de substituto, Mohammed bin Salman nomeou a princesa Reema bint Bandar como embaixadora da Arábia Saudita em Washington, e promoveu o seu irmão Khalid bin Salman a vice-ministro da Defesa.

Quando o rei regressou do Egipto, o príncipe herdeiro não foi recebê-lo ao aeroporto.

Alguns analistas disseram ao Guardian que as nomeações feitas por Mohammed bin Salman na ausência do rei Salman são “extremamente raras”, mas o reino sublinha que o príncipe herdeiro apenas desempenhou as suas funções.

“É habitual que o rei da Arábia Saudita emita um decreto real para delegar o poder de administrar os assuntos do Estado no seu adjunto, o príncipe herdeiro, sempre que viaje para fora. Foi esse o caso durante a recente visita do rei Salman ao Egipto”, disse ao Guardian um porta-voz da embaixada saudita na capital dos EUA.

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