Pavel Pogrebniak: “É estranho ver um jogador negro na selecção russa”

Declarações do antigo internacional estão a ser alvo de investigação da União Russa de Futebol. Pogrebniak referia-se a jogador de origem brasileira naturalizado russo.

Foto
Pavel Pogrebnyak somou passagens por clubes russos, ingleses e alemães Action Images

As declarações de Pavel Pogrebniak, antigo internacional russo e jogador do FK Ukral, estão a ser alvo de uma investigação da União de Futebol Russa. Numa entrevista concedida ao tablóide diário Komsomolskaia Pravda, Pogrebniak mostrou desagrado com presença de jogadores estrangeiros na selecção russa. E chega mesmo a dizer que é “estranho” ou “curioso” ter jogadores negros a representar o país. Aludindo, assim, à convocatória de Ariclenes da Silva Ferreira, jogador de origem brasileira naturalizado russo e conhecido como Ari.

“É estranho ver um jogador negro na selecção russa. Sou contra [a utilização de estrangeiros na selecção russa]. Não percebo qual é o objectivo”, afirmou o antigo internacional, citado pelo The Moscow Times. Pogrebniak ​representou o Zenit e Dínamo de Moscovo, na Rússia. Em Inglaterra, passou pelo Fulham e, na Alemanha, jogou pelo Estugarda. 

Mikhail Fedotov, dirigente do Conselho Presidencial para os Direitos Humanos, afirmou à estação de televisão 360tv.ru que as declarações de Pavel Pogrebniak deixaram “uma sensação racista”. Por sua vez, Alexander Baranov, chefe adjunto do comité anti-discriminação da Primeira Liga russa, afirmou à agência estatal de notícias TASS que o jogador arrisca ser suspenso ou multado: "A União de Futebol Russa irá examinar este incidente muito brevemente e tomará uma decisão.”

Ari, avançado de 33 anos, chegou ao futebol russo em 2010 e, até 2013, alinhou pelo Spartak de Moscovo. Em 2014, foi contratado pelo Krasnodar, clube que ainda representa. Ao longo destas cinco épocas, esteve duas vezes por empréstimo no Lokomotiv, mas as boas exibições motivaram o regresso ao clube do leste da Rússia. Ari pediu a naturalização no início de 2018, recebendo cidadania russa em Julho do mesmo ano. Na presente temporada, marcou por nove vezes em 17 jogos, merecendo a convocatória do seleccionador russo, Stanislav Cherchesov, para os próximos compromissos internacionais. 

Ver esta publicação no Instagram

Agora eu sou russo! ??????????

Uma publicação partilhada por ??? (@ari_gol1000) a

Hulk e Witsel foram vítimas de racismo no Zenit

Vários jogadores vieram a público queixar-se do tratamento recebido nos estádios russos. Hulk, antigo jogador do FC Porto e Witsel, que jogou no Benfica, foram dois dos alvos da ira dos adeptos russos na passagem pelo Zenit. 

Mas, muitas vezes, eram os adeptos da própria equipa que iniciavam os insultos. “É preciso dizer que, em quase todos os jogos, vejo isso acontecer-me. Normalmente fico irritado, mas agora vejo que isso não ajuda nada. Passei então a mandar beijos para os nossos adeptos e a tentar não ficar irritado”, afirmaria Hulk, em 2015, ao jornal britânico The Guardian.

A contratação de Hulk, em 2012, colocou os adeptos em alvoroço. O Zenit nunca tinha tido um jogador de origem africana e, mesmo sendo brasileiro, a cor de pele de Hulk causou desagrado junto dos adeptos mais radicais.

Foto
Ultras do Zenit afirmaram que jogadores negros e homossexuais não são bem-vindos no clube ANATOLY MALTSEV / LUSA

A preocupação com o racismo foi especialmente evidente após o anúncio de que o Mundial de 2018 seria realizado na Rússia. Vários adeptos foram julgados por cânticos xenófobos, casas e sedes dos adeptos e grupos mais extremistas revistadas pelas autoridades. “[Incidentes racistas] são absolutamente intoleráveis e seremos muito, muito firmes, para que possamos esperar fair-play na Rússia”, afirmaria Gianni Infantino, presidente da FIFA, seis meses antes do início da competição.

 

Sugerir correcção
Comentar