No dia seguinte ao terror, Nova Zelândia une-se em apoio às vítimas

Após massacre em duas mesquitas na cidade de Christchurch, multiplicam-se gestos de solidariedade. Autor pode ter passado pela Europa, Afeganistão, Paquistão e Xinjiang.

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Notas escritas à mão num memorial às vítimas do atirador MICK TSIKAS/EPA
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A primeira-ministra Jacinda Ardern esteve com a comunidade muçulmana BORIS JANCIC/EPA

Reagindo ao ataque levado a cabo por um australiano de 28 anos que entrou em duas mesquitas da cidade de Christchurch, matando 50 pessoas e deixando outras 50 feridas, muitos neozelandeses reagiram com manifestações de solidariedade para com a comunidade muçulmana.

A primeira-ministra, Jacinda Ardern, visitou representantes da comunidade muçulmana, sobreviventes e familiares de vítimas, acompanhada por deputados e o líder da oposição: a mensagem era de que o país está unido com a comunidade muçulmana.

Ardern falou de medidas como a segurança acrescida em torno de locais de culto e, notando que muitas vítimas eram quem sustentava a família, prometeu ajudas para estes casos. Dos líderes da comunidade, ouviu que todos os gestos de apoio eram apreciados: a oferta de um copo de água a quem possa precisar, uma flor na porta de um muçulmano.

E houve vários gestos destes, dos pequenos aos maiores: a emissora panárabe Al Jazira enumera iniciativas de crowdfunding para ajudar quem precisasse, doação de comida halal, que cumpra as regras muçulmanas, ou oferta de companhia a muçulmanos que se sentissem inseguros. 

A comida foi resultado de uma iniciativa no Facebook de um casal que queria ajudar os familiares de sobreviventes feridos hospitalizados, que esperaram horas e horas perto dos hospitais por novidades. O casal Iannou, que lançou o repto, foi inundado de ofertas de ajuda e houve pessoas a fazer fila para entregar refeições.

Também no Facebook uma habitante de Wellington, a capital, escreveu um post que se tornou viral: “A alguma mulher muçulmana em Wellington que se sinta insegura: vou andar contigo, vou esperar contigo na paragem de autocarro, ou acompanhar-te enquanto fazes compras”.

Também outras confissões mostraram apoio: responsáveis sikhs, por exemplo, dispuseram-se a ajudar a preparar os corpos dos mortos para os funerais.

Pessoas juntaram-se nas zonas perto das mesquitas, que foram isoladas pela polícia, pondo flores ou ficando em silêncio. A certa altura, um dos carros da polícia pegou em vários ramos de flores e levou-os além do cordão de segurança, até à entrada da mesquita al-Noor, onde morreram 41 pessoas.

“Viemos aqui em respeito aos que perderam a vida. Podia ser eu, ou qualquer outra pessoa”, disse ao site Buzzfeed Eskindr, um cristão etíope a viver na Nova Zelândia há 17 anos. “Devíamos estar juntos. Temos de estar fortemente ligados para podermos derrotar este tipo de acção”, declarou. 

Viagens do acusado

Enquanto isso, prosseguem as investigações sobre o atentado, que deixou em choque o país que tem uma média anual de cerca de 50 vítimas de homicídio por ano.

Presente a tribunal, o suspeito, Brenton Tarrant, um australiano de 28 anos, foi acusado de assassínio, mas as autoridades disseram que iriam em breve juntar mais acusações. A próxima sessão ficou marcada para 5 de Abril. Outro suspeito estava detido por suspeitas de incitamento do ódio, mas não era claro que ligação teria com o ataque.

Nesta primeira sessão, ficou claro que o acusado deverá emular o autor do massacre de Utoya na Noruega (77 mortos em 2011): Anders Breivik também reagiu com sorrisos a várias etapas do seu processo judicial, como a leitura da sentença.

Breivik parece ter sido uma inspiração e era citado no manifesto que o atacante deixou. Enquanto isso, autoridades de vários países como a Turquia e Bulgária investigavam visitas de Tarrant aos seus países, e o jornal britânico The Independent diz que é provável que este tenha ainda passado por regiões de maioria muçulmana como uma área do Paquistão na fronteira com Caxemira, um corredor no Afeganistão, e Xinjiang, na China.

O acusado pelo ataque e o segundo suspeito não estavam em nenhuma lista de pessoas vigiadas por suspeitas de poderem vir a cometer acções terroristas. Para já, parece claro que o autor do atentado o planeou durante anos e tinha legalmente em sua posse cinco armas, duas das quais semiautomáticas.

A lei neozelandesa não prevê o registo de armas por isso, dizem especialistas, é possível juntar uma grande quantidade de armas sem levantar qualquer suspeita.

A primeira-ministra disse que era claro que a lei de posse de armas teria de ser mudada, e que o Governo iria ter esta discussão na segunda-feira. Ardern acrescentou que é provável que as armas usadas no ataque tenham sido modificadas e prometeu que os buracos na lei que permitem estas alterações iriam ser fechados na discussão sobre a lei que o Governo levará a cabo na segunda-feira.

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