Eficiência energética “continua a ser desprezada” pelo Governo

Grupo ambientalista GEOTA critica construção das barragens do Tâmega e diz que a aposta deveria ser na redução de consumos, no reforço de potência de barragens já existentes e no solar.

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Nuno Ferreira Monteiro

Volvida uma década do lançamento do Programa Nacional de Barragens de Elevado Potencial Hidroelétrico (PNBEPH), no Governo de José Sócrates, dos dez aproveitamentos planeados, cinco ficaram pelo caminho, um está construído (Foz Tua, da EDP), três estão em construção (Alto Tâmega, Daivões e Gouvães, da Iberdrola) e sobre um quinto, Fridão, da EDP, paira a incógnita.

Tal como em 2008, o Grupo de Estudos de Ordenamento do Território e Ambiente (GEOTA) mantém-se um firme opositor da construção das novas centrais. São projectos que terão uma produção “verdadeiramente irrelevante” porque “estão a ser feitas em rios que não têm água” (são rios de regime torrencial, que apenas têm muita água quando há chuva) e que terão um “impacto ambiental desastroso”, quando a capacidade instalada já é “largamente excedentária”, diz o dirigente do GEOTA, João Joanaz de Melo.

O Governo tem de decidir até 18 de Abril se dá luz verde ao projecto da EDP para o Tâmega e o ministro do Ambiente, Matos Fernandes, disse no Parlamento, em Janeiro, que “a única razão para se fazer o Fridão tem a ver com a capacidade que o país tem ou não tem de cumprir as metas para 2030, de 80% da energia porvir de fontes renováveis”. Embora outra variável importante seja a eventual obrigação de devolver 218 milhões de euros à EDP.

Segundo o governante, a conclusão do Plano Nacional de Energia e Clima 2030 (PNEC 2030) era o instrumento que faltava para fazer o diagnóstico.

Joanaz de Melo reprova estes grandes projectos que vão destruir “um dos últimos grandes rios em estado quase natural” e sublinha que “há alternativas”. Apontando a eficiência energética como “a principal e mais importante, e que continua a ser desprezada no PNEC”, o professor de Engenharia do Ambiente também não poupa críticas ao plano onde o Governo inscreveu os eixos de política energética do país para os próximos anos, porque “prevê consumos de energia final em 2030 iguais aos de 2020, o que é uma coisa verdadeiramente inacreditável”.

O potencial de poupança com o investimento em eficiência energética, “que se rentabiliza em cinco, seis anos, ronda os 30%” dos consumos, assegura Joanaz de Melo.

Além disso, há o potencial de expansão da produção solar, que “pode representar nos próximos dez anos qualquer coisa como um quarto da capacidade instalada” no país. Outras hipóteses são a modernização dos parques eólicos com máquinas mais potentes e eficientes, estratégia que também deveria ser equacionada nas barragens já existentes, “com muito pouco impacto ambiental e custos relativamente modestos”.

Além de Fridão, o ambientalista contesta o projecto da Iberdrola – cerca de 1160 megawatts de potência, com um investimento a rondar os 1500 milhões de euros (incluindo os 300 milhões pagos pela concessão). Nestas barragens interligadas por um sistema de bombagem, a Iberdrola conseguirá produzir quando a electricidade é mais cara, para depois armazenar a água que passa pelas turbinas, aproveitando os momentos em que o preço está mais baixo (por exemplo, à noite, quando há excesso de eólicas) para ligar as bombas que devolvem essa mesma água à albufeira superior, reutilizando-a para nova produção.

Para o dirigente do GEOTA, o projecto, que durante os primeiros dez anos irá receber subsídios ao investimento suportado pelas facturas dos consumidores portugueses, “faz sentido se pensarmos que a Iberdrola é o principal accionista de Almaraz e que por isso pode ter um contrato bilateral de aquisição de energia nuclear quase à borla e dar-lhe uso à noite”, para bombear a água e reutilizá-la quando a procura e o preço forem maiores.

O especialista entende que o sistema de bombagem “é complementar do nuclear, muito mais do que da eólica”, porque se esta está dependente do vento, já “excedentes do nuclear à noite em Espanha, há todos os dias”.

Joanaz de Melo também rejeita o argumento da necessidade destes projectos para cumprir metas de renováveis, sustentando que, “segundo as directivas europeias, a electricidade que é produzida a partir de água bombeada não pode entrar na contagem da electricidade renovável”.
 

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