David Neeleman reforça posição na TAP com saída dos chineses

Venda da posição da HNA permitiu a Neeleman deter a maioria do capital da Atlantic Gateway, que controla 45% da TAP. Brasileira Azul também já é accionista da transportadora portuguesa.

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Nuno Ferreira Santos

O movimento de saída da HNA do capital da TAP abriu caminho ao reforço de David Neeleman na TAP, seja por via da Global Aviation Ventures (GAV) da qual é o dono, seja pela Azul, companhia brasileira que fundou e na qual ainda tem um forte domínio. Estas foram as duas entidades às quais o grupo chinês alienou a posição de 20% que detinha na Atlantic Gateway (dona de 45% da TAP) por 55 milhões de dólares (cerca de 48,5 milhões de euros).

O anúncio da retirada da HNA, via Hainan Airlines, foi feito esta quinta-feira através da bolsa de Shangai, e surge depois de um reforço de capital  feito em contra-ciclo em Fevereiro, já que o grupo está a atravessar dificuldades e a vender activos para reduzir o endividamento. Este último reforço era, no entanto, um compromisso assumido com os accionistas e que tinha de ser cumprido, antes de poder inverter a estratégia.

Neeleman com maioria da Atlantic Gateway

Feitas as contas, com base em dados da agência Reuters, dos 20% da Atlantic Gateway que estavam com a HNA (e que valem 35% dos direitos económicos do consórcio), 9,09% fica agora nas mãos da Azul (por 25 milhões de dólares, ou 22 milhões de euros) o que dá uma posição indirecta de 4,09% da TAP à transportadora brasileira. A outra parte, correspondente a 10,91% da Atlantic Gateway (equivalente a 4,91% da TAP) vai para David Neeelman (por 30 milhões de dólares, ou 26,5 milhões de euros), que assegura agora a maioria do capital do consórcio privado: Neeleman fica em 50,91% da Atlantic por via de duas entidades (a GAV e a DGN), a Azul com 9,09% e Humberto Pedrosa com 40% (via HPGB).

No mesmo comunicado em que dá conta que é o dono da GAV, David Neeleman diz que este reforço do investimento “demonstra a confiança que os investidores privados têm no crescimento sustentado da TAP e na capacidade da gestão em continuar a implementar o plano estratégico delineado na privatização”. O título do comunicado é, aliás, elucidativo da investida do empresário: “David Neeleman confiante no crescimento sustentado da companhia reforça aposta na TAP”.

Até ao ano passado, a HNA também estava presente na transportadora brasileira, mas vendeu a investidores institucionais norte-americanos o capital que detinha na Azul, da qual veio o actual presidente executivo da TAP, Antonoaldo Neves. Por parte da Azul, e que fará agora parte do capital da transportadora portuguesa, a empresa detém ainda 90 milhões de euros em obrigações convertíveis em acções da TAP e que, quando forem aplicadas, darão o domínio à empresa brasileira em termos económicos (com 41% do total, ligados a questões como distribuição de dividendos. Outros 38% ficarão com a Atlantic Gateway e os restantes 21% com o Estado e também com os trabalhadores). O Estado tem 50% do capital, mas ficou com menos direitos económicos.

O reforço de Neeleman e o estreitamento das ligações entre a Azul e a TAP ocorre numa fase em que a primeira assegurou a compra dos activos da Avianca Brasil, o que possibilitará, desde que haja luz verde dos reguladores, um aumento da frota, de rotas e clientes, que também poderá influenciar positivamente a empresa portuguesa com a canalização de passageiros (o Brasil é uma das suas principais fontes de receitas).

Saída “não era inesperada”

Numa reacção à saída da HNA, o presidente do conselho de administração da TAP, Miguel Frasquilho, afirmou, citado pela Lusa, que foi “com pena” que recebeu a notícia da retirada do grupo chinês da composição accionista da TAP onde o Estado detém 50% (os outros 5% estão nas mãos de trabalhadores). No entanto, realçou que a saída “não é inesperada”. “São conhecidas as dificuldades, era uma questão de tempo”, acrescentou.

Já fonte do Ministério das Infra-estruturas e da Habitação referiu à Lusa que a venda da posição do grupo chinês “não afecta a posição estratégica do Estado português, que se mantém inalterada” e que os novos investidores são “um sinal de confiança” no futuro da empresa.

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