Hacker Rui Pinto vai ser extraditado para Portugal nos próximos dez dias

Inspectores da PJ vão deslocar-se à Hungria para irem buscar o pirata informático português, depois de as autoridades judiciais húngaras terem indeferiram o recurso da defesa de Rui Pinto, que queria evitar a extradição.

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Rui Pinto DR

Rui Pinto, o pirata informático que assumiu ser o mentor da divulgação de milhões de documentos sensíveis através do site​ Football Leaks, vai mesmo ser extraditado para Portugal. Um tribunal superior húngaro recusou o recurso apresentado pela defesa do hacker português, como confirmou ao PÚBLICO o advogado húngaro de Rui Pinto, David Deak. “O tribunal deu dez dias para o Rui Pinto ser enviado para Portugal”, precisou o defensor.

Neste momento, o jovem de 30 anos encontra-se detido numa prisão de Budapeste, onde irão buscá-lo inspectores da Polícia Judiciária portuguesa. A PJ pretende trazer, além de Rui Pinto, o material informático apreendido nas buscas, que poderá conter provas relevantes para os investigadores. Em causa estão vários discos externos, pen drives, cartões de memória e um computador, além de três telemóveis.

Segundo fonte policial explicou ao PÚBLICO, a Judiciária já está a tratar logisticamente do regresso de Rui Pinto, que depois de aterrar em Portugal terá 48 horas para ser presente a um juiz de instrução. Como o caso está, neste momento, no Departamento Central de Investigação e Acção Penal (DCIAP), o processo deve ser remetido para o Tribunal Central de Instrução Criminal, que deverá aplicar as medidas de coacção que considerar adequadas. É provável que o Ministério Público peça a prisão preventiva de Rui Pinto, alegando que este permaneceu na Hungria, em parte incerta, para fugir às autoridades portuguesas.

No entanto, o denunciante no Football Leaks tem afirmado que teme pela sua vida se for colocado numa cadeia portuguesa. Numa entrevista à revista alemã Der Spiegel mostrou desconfiança no sistema judicial português, argumentos que usou perante a Justiça húngara, sem sucesso. “Tenho quase a certeza que não terei um julgamento justo em Portugal. O sistema judicial português não é inteiramente independente; existem muitos interesses escondidos”, afirmou o hacker à revista alemã. E completou: “Claro que há procuradores e juízes que levam o seu trabalho a sério. Mas a máfia do futebol está em todo o lado. Querem passar a mensagem que ninguém se deve meter com eles.” 

Os crimes imputados a Rui Pinto

A justiça portuguesa imputa a Rui Pinto a prática de seis crimes: dois de acesso ilegítimo, dois de violação de segredo de justiça, um de ofensa a pessoa colectiva e outro de tentativa de extorsão. Nenhum dos ilícitos descritos no mandado de detenção europeu emitido pelo DCIAP envolve o Benfica ou o FC Porto. O único clube de futebol visado nesta panóplia de crimes é o Sporting, que terá sido vítima de um crime de acesso ilegítimo.

O mesmo terá acontecido com o sistema informático do fundo de investimento Doyen Investment Sports, que financia passes de jogadores e treinadores de futebol. Este fundo, sediado em Malta, também terá sido visado pela tentativa de extorsão que o Ministério Público imputa a Rui Pinto.

A PJ já admitiu não ter elementos que comprovem a ligação do hacker português ao roubo dos emails do Benfica, mas Rui Pinto é, de facto, suspeito desse crime. Isto, em grande parte, porque a forma como o ataque foi realizado coincide com o modus operandi do especialista informático. As autoridades esperam que a análise da enorme quantidade de informação apreendida ao hacker na Hungria traga novos elementos de prova que permitam comprovar a suspeita. 

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