Câmara de Guimarães abre caminho à requalificação da torre medieval

Reconhecida pela inscrição “Aqui Nasceu Portugal”, a Torre da Alfândega é a única das seis torres que resta da antiga muralha da cidade e já tem a porta aberta para ser requalificada. Autarquia pagou 75.000 euros pela compra do prédio de acesso.

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HUGO DELGADO

Guimarães avançou mais um passo no caminho para transformar a Torre da Alfândega num espaço visitável, capaz de se distinguir pelos olhares que se podem cravar sobre a cidade a partir do seu miradouro, e não só pela inscrição “Aqui Nasceu Portugal”; a autarquia vai comprar o prédio que dá acesso à torre pelas traseiras – o número 33, da Rua do Anjo – à empresa imobiliária Marvalu, actual proprietária, por 75.000 euros – pagou 37.500 euros quando celebrou o contrato-promessa de compra e venda e vai entregar a outra metade da verba aquando da celebração da escritura, lê-se na nota de agenda da reunião do executivo municipal, decorrida esta quinta-feira.

Garantida a posse do imóvel, a Câmara vai requalificar a única das seis torres que sobrevive da muralha que outrora rodeou o centro histórico. Com o projecto já definido desde Setembro de 2016, o presidente da Câmara, Domingos Bragança afirmou o desejo de ver o concurso lançado brevemente, com empresas a mostrarem a interesse na obra. “Se tudo correr bem, o concurso não vai ficar deserto”, disse. “Há muita dificuldade com os preços-base, que não podem ser ultrapassados. Às vezes, pensámos que a obra vai iniciar-se daqui a três, quatro ou cinco meses e assim não acontece”.

O edifício construído no seio da torre vai ser demolido e, nesse espaço, vai surgir uma caixa de escadas em ferro que vai servir de percurso interpretativo do património construído ao longo dos pisos, onde serão claramente visíveis os muros interiores, de granito. Essas escadas vão dar também acesso ao terraço, de onde se poderão mirar edifícios, como o Centro Cultural Vila Flor, e praças, como o Toural.

Para poderem também usufruir dessas vistas, as pessoas com mobilidade reduzida vão dispor de um elevador panorâmico no interior da torre, no âmbito de um projecto que recebeu um parecer positivo da Direcção-Geral do Património Cultural e que integrou uma candidatura aos fundos do Portugal 2020.

Nas mãos de privados desde o século XIX

Com esta compra, o edifício que vai regressar à esfera pública, depois de ter estado na posse de privados desde o século XIX, segundo o blogue Memórias de Araduca, do historiador vimaranense António Amaro das Neves. O presidente da Câmara de Guimarães lembrou esse percurso. “O imóvel ora esteve abandonado, ora apropriado por particulares, devida ou indevidamente numa ou em duas centenas de anos”.

A posse do acesso à torre medieval esteve no epicentro de uma polémica em Março de 2016, quando se tornou público que a Câmara não exerceu o direito de preferência sobre o edifício – aplica-se a todo o centro histórico -, quando ele foi vendido por uma família local à Marvalu, detida pelo empresário famalicense Domingos Machado Mendes, por 193.000 euros, em 2014.

A autarquia reiterou então que a informação que consultara sobre o negócio mencionava um outro imóvel na Rua Doutor Avelino Germano (contígua à Rua do Anjo), presumivelmente sem interesse para o acesso à torre, e que não sabia quem era o proprietário do número 33, que se veio a confirmar ser a empresa imobiliária. O então vereador José Bastos chegou a avançar a hipótese de expropriação do número 33, mas a Câmara acabou por garantir a posse do imóvel numa negociação normal com a Marvalu.

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