O que se ficou a saber dos oficiais-generais

Foi admitida a colaboração interna no furto e apontado o fim do serviço militar obrigatório como responsável pela falta de efectivos para garantir a segurança em Tancos.

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Tenente-general Faria de Menezes na comissão parlamentar LUSA/JOSE SENA GOULAO

Sete audições a oficiais generais, entre eles um chefe de Estado-Maior General das Forças Armadas (CEMGFA) e dois chefes do Estado-Maior do Exército (CEME), marcaram as últimas semanas da comissão parlamentar de inquérito a Tancos. Foram confirmadas as deficiências do paiol, mas não se vislumbraram outras questões, além do mal-estar evidente no ramo (ver outro texto). Foram avançadas pistas e recordados episódios.

Suspeita que ganha força

Conluio interno no roubo

As investigações estão a cargo do Ministério Público mas, com o que se sabe, o conluio interno no roubo é a suspeita que ganha força. “Para mim teve de haver conivência de dentro, como nos comandos [roubo de metralhadoras em fins de 2010 e início de 2011] e nas Glock da polícia [furto de 57 pistolas detectado em finais de Fevereiro de 2017]”, comentou o general Carlos Jerónimo, ex-CEME. Passou-se da dúvida entre assaltantes amadores e profissionais, em audições anteriores, a uma suspeita de maior alcance, porque interna. “Parece-me incrível que um antigo militar tenha a vergonha de entrar num paiol por dinheiro”, desabafou o tenente-general Faria de Menezes, que esteve à frente do Comando das Forças Terrestres, referindo-se a um dos arguidos detidos.

Dar nome aos problemas

Fim do Serviço Militar Obrigatório

Audição após audição, os militares que foram ouvidos sobre Tancos fizeram uma referência genérica à falta de efectivos que afecta o Exército e as Forças Armadas. Só agora, esta espécie de falta de vocações súbita foi exemplificada. “De repente fiquei sem ninguém, o Exército perdeu 40% dos efectivos”, comentou o tenente-general António Calçada, antigo Comandante do Pessoal, referindo-se às consequências do fim, em 2004, do Serviço Militar Obrigatório (SMO). “Não foi acompanhada de alterações estruturais, em 2006 houve alterações nas regiões militares que só se consolidaram em 2012”, corroborou, sessões mais tarde, o general Pina Monteiro, antigo CEMGFA. O lamento pelo fim do SMO, pelo qual lutaram as “jotas” do PS e do PSD, decretou o silêncio nos deputados das duas maiores bancadas do Parlamento.

Memória inconveniente

A intervenção de Passos Coelho

Os oficiais-generais foram confrontados com perguntas directas sobre pressões políticas para as medidas tomadas pelo Exército após o assalto de 27 de Junho de 2017. O alvo pretendido era o ex-ministro Azeredo Lopes e, porventura, alguma pista em relação a António Costa ou ao Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa. As pressões ou foram negadas ou admitidas, mas sem provas. Já a recordação de uma intervenção de Pedro Passos Coelho, ex-primeiro-ministro, de 1 de Julho de 2017, após o roubo, sobre a inexistência de demissões na hierarquia militar, embaraçou os deputados do PSD. Um dos oficiais que recordaram aquela exigência foi o antigo CEME, Rovisco Duarte. Os outros, foram os tenentes generais Menezes e Calçada.

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