Assis demite-se de cargo europeu, após ser impedido de falar num debate no PE sobre a Venezuela

O eurodeputado socialista deixa a coordenação do grupo Socialistas & Democratas da Assembleia Parlamentar Euro-Latino-Americana, mas mantém-se como presidente da delegação do Parlamento Europeu para as Relações com o Mercosul. Foi o próprio grupo parlamentar a que pertence que não o autorizou a falar

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Francisco Assis ficou de fora da lista ao Parlamento europeu Rui Gaudêncio

O eurodeputado socialista Francisco Assis, que é presidente da delegação do Parlamento Europeu para as Relações com o Mercosul (Mercado Comum do Sul), apresentou a sua demissão do cargo de coordenador do grupo Socialistas & Democratas da Assembleia Parlamentar Euro-Latino-Americana (Eurolat), após ter “sido impedido de participar”, na terça-feira, num debate de urgência sobre a Venezuela, que decorreu em Estrasburgo.

“Fui impedido de participar no debate hoje [terça-feira] realizado no Parlamento Europeu, em Estrasburgo, sobre este tema, sem que me tenha sido apresentada uma explicação plausível. Considero tal facto ofensivo da minha dignidade parlamentar e pessoal, pelo que, para a devida salvaguarda da mesma, venho apresentar a demissão das funções de coordenador dos Socialistas & Democratas no Eurolat, com efeitos imediatos”, afirma Francisco Assis na carta de demissão a que o PÚBLICO teve acesso.

Quando o eurodeputado do PS pediu para falar, o grupo parlamentar a que pertencem os eurodeputados socialistas não lhe deu autorização, afirmando que não se tinha inscrito para falar, uma situação que, de acordo com uma fonte próxima de Assis, “nunca tinha acontecido”.

No lugar de Assis – que em 2014 liderou a lista do partido ao Parlamento Europeu, ficando agora de fora das escolhas de António Costa ­ –, falou a eurodeputada socialista Ana Gomes.

Francisco Assis confirmou ao PÚBLICO que se mantém como presidente da delegação do Parlamento Europeu para as Relações com o Mercosul. “Inexplicavelmente, fui impedido de participar no debate de hoje [terça-feira] realizado no Parlamento Europeu, em Estrasburgo, sobre este tema, sem que me tenha sido apresentada uma explicação plausível”, refere Assis na carta entregue ao presidente do Grupo da Aliança Progressista dos Socialistas e Democratas, Udo Bullmann.

O socialista explica depois que durante os últimos dois anos e meio desempenhou “com empenho e dedicação as funções de coordenação do nosso grupo na Assembleia Parlamentar Euro-Latino-Americana (Eurolat), acompanhando de muito perto tudo quanto se passa na América Latina, assim como tudo o que tem que ver com a relação entre esta região do mundo e a União Europeia”. E prossegue: “Ademais, na qualidade de presidente para as Relações com o Mercosul, segui nos últimos anos com especial atenção a evolução da dramática situação política e económica da Venezuela”.

Na carta, Francisco Assis tenta mostrar ao presidente do grupo da Aliança Progressista dos Socialistas e Democratas que era a pessoa indicada para intervir no debate de urgência sobre a Venezuela. “Até à presente data, participei activamente em todos os debates levados a cabo neste Parlamento sobre a situação vivida neste país. Em Julho passado, presidi a uma delegação que se deslocou à fronteira entre o Brasil e a Venezuela, onde tive a oportunidade de verificar presencialmente a imensidão da tragédia que se abate sobre o povo venezuelano”, escreve o eurodeputado na carta redigida depois do debate, organizado pelo Parlamento Europeu.

Esta decisão foi tomada pelos eurodeputados na abertura da sessão plenária, dando seguimento a outra resolução aprovada em 31 de Janeiro na qual o PE reconhece Juan Guaidó como presidente interino da Venezuela. No início da sessão, o presidente do PE, Antonio Tajani, lamentou a situação dramática que se vive na Venezuela, onde “os recém-nascidos morrem devido à falta de electricidade nos hospitais”.

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