Cardeal George Pell condenado a seis anos de prisão por abusos sexuais

O juiz acusou o cardeal de "arrogância impressionante" e determinou que tem que cumprir pelo menos três anos e oito meses de prisão antes de ser elegível para liberdade condicional.

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Reuters/Mark Dadswell

O cardeal australiano George Pell, antigo número três do Vaticano, foi esta quarta-feira condenado a seis anos de prisão por cinco crimes de abuso sexual a dois meninos do coro de uma catedral em Melbourne, na Austrália, crimes perpetrados há mais de 20 anos. O juiz considerou que a atitude do clérigo face aos crimes que cometeu foi de “uma arrogância impressionante”.

O juiz Peter Kidd, do Tribunal de Comarca de Vitória, em Melbourne, determinou que Pell, de 77 anos, cumpra um mínimo de três anos e oito meses de prisão antes de ser elegível para liberdade condicional. E o nome de Pell ficará para sempre registado na lista de agressores sexuais. 

“Do meu ponto de vista, a sua conduta foi permeada por uma arrogância impressionante”, disse o juiz Peter Kidd, citado pelo canal de televisão ABC Australia, enquanto tornava público veredicto. “No geral, considero que a sua culpabilidade moral em ambos os episódios foi elevada”.

Pell arriscava uma pena máxima de 50 anos pelos vários crimes. Para justificar a sua decisão, o juiz disse que Pell viveu “uma vida irrepreensível” e que, devido à idade e aos seus problemas de saúde, é pouco provável que reincida no crime. 

O juiz também fez questão de mencionar que está a julgar Pell pelos crimes que cometeu e não pelos “pecados” da Igreja Católica: “Enquanto presidente do júri que o condenou neste julgamento, não será o bode expiatório pelas falhas da Igreja Católica.”

Mas o juiz não ignorou que Pell se aproveitou da sua posição de poder para abusar sexualmente dos dois rapazes e não mostrou qualquer remorso pelos crimes, que Kidd descreveu como “flagrantes, degradantes e humilhantes para as vítimas”.

O cardeal foi considerado culpado por um crime de penetração sexual a uma criança com menos 16 anos e quatro crimes de actos indecentes na presença de outra criança com menos de 16 anos.

O tribunal ouviu apenas uma das vítimas, uma vez que a outra já morreu. O júri do tribunal de Vitória foi unânime na decisão. Mas o cardeal George Pell sempre negou todas as acusações e já anunciou que vai recorrer da sua condenação. Espera-se uma decisão sobre esse recurso em Junho.

À saída do tribunal, a advogada das vítimas leu um comunicado onde um dos rapazes que sofreu de abusos de Pell durante a infância descreveu a sentença como “meticulosa e ponderada”. “Por enquanto, é-me difícil sentir algum conforto com esta decisão. Foi bom o tribunal ter reconhecido o que me foi feito na infância. No entanto, para mim não há descanso. Está tudo ensombrado pelo recurso que se aproxima.”

George Pell era uma “figura dominante” na Igreja Católica, tal como descreve a Reuters: foi conselheiro económico do Papa Francisco e responsável pelas finanças do Vaticano. Neste momento, está suspenso, por decisão do Papa Francisco, e impedido de “estar em contacto, de qualquer forma, com menores”. É a figura mais alta da hierarquia do Vaticano a ser condenada por abuso sexual de menores.

Foi em Dezembro que o cardeal foi considerado culpado de cinco crimes sexuais contra crianças, mas a sentença só foi revelada em Fevereiro.

Os crimes foram cometidos há mais de 20 anos na Catedral de São Patrício, em Melbourne – numa altura em que os dois rapazes faziam parte do coro da igreja e tinham cerca de 13 anos de idade, em meados dos anos 1990. Pell era arcebispo de Melbourne. Os rapazes foram apanhados pelo cardeal a beber vinho da missa numa sala nas traseiras da catedral, e os abusos aconteceram na sequência dessa infracção.

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