Boeing promete “melhorar” 737 Max “nas próximas semanas”

Pressionado pela proibição em mais de 40 países, o fabricante do modelo que sofreu dois acidentes em cinco meses diz que prepara "actualizações" para melhorar a segurança.

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Cockpit de um Boeing 737 MAX 8 Abhirup Roy/Reuters
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O 737 Max é fabricado em Renton, no estado de Washington (costa Oeste dos EUA) Matt McKnight/Reuters

Casa roubada, trancas à porta. Este ditado português parece servir como uma luva ao anúncio feito pela Boeing nas últimas horas. O fabricante norte-americano de aviões promete mudanças relevantes na configuração do Boeing 737 Max, depois de este modelo ter estado envolvido em dois acidentes aéreos muito semelhantes que mataram 346 pessoas. O desastre mais recente, no domingo passado, na Etiópia, levou à interdição deste modelo no espaço aéreo de 32 países europeus (Portugal incluído) e em mais uma dezena de outros países, incluindo China, Índia, Singapura e Austrália.

Num comunicado publicado no site, a Boeing diz que vai aplicar melhorias no 737 Max “a partir das próximas semanas”, incluindo “actualizações do MCAS, dos mostradores usados pelos pilotos, dos manuais de operações e na formação das equipas”. O construtor de Chicago garante que tem vindo a trabalhar nestes melhoramentos “nos últimos meses, e na sequência do acidente com o Lion Air 610”, a 29 de Outubro de 2018, na Indonésia.

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Um 737 Max em descolagem para um voo de teste em 2016 JASON REDMOND/Reuters

Estas “actualizações”, nas palavras da Boeing, vão ao encontro de todas as queixas que têm sido formuladas por pilotos que têm estado a operar o 737 Max, a começar pelos profissionais da norte-americana Southwest Airlines, que é o principal cliente deste modelo. Tal como o PÚBLICO noticia nesta quarta-feira, a Southwest exigiu ao fabricante que melhorasse a principal novidade desta geração da família 737, o MCAS, logo após a queda do avião da Lion Air no mar de Java, onde morreram 189 pessoas.

No comunicado agora publicado, o fabricante confirma que as mudanças a introduzir em breve se basearam “no feedback de clientes”. A Southwest encomendou 280 unidades do 737 Max 8, a maior encomenda de uma só companhia em todo o mundo.

Na sequência do desastre na Indonésia, que tem muitas semelhanças com o que ocorreu domingo passado na Etiópia, esta transportadora pediu alterações no MCAS, um mecanismo tecnológico que deveria actuar de forma automática sobre o estabilizador horizontal do aparelho, em caso de perda de sustentação.

O relatório da investigação ao Lion Air 610 revelou que este MCAS actuou 26 vezes nos 12 minutos que durou o fatídico voo até à queda, um facto que, dizem pilotos, ajuda a justificar o acidente e só se explica devido a um mau funcionamento do MCAS, que terá agido com base em dados errados recolhidos por uma das duas sondas que alimenta o sistema. A Southwest exigiu mais redundâncias no mecanismo, que permita aos pilotos despistarem informação errónea de uma tecnologia que assenta em apenas duas sondas.

“Nos últimos meses, a Boeing tem vindo a desenvolver melhoramentos no software de controlo de voo do 737 Max, para tornar este modelo ainda mais seguro. Isto inclui actualizações do MCAS, dos instrumentos de apoio visual para pilotos, dos manuais e da formação de equipas. Os melhoramentos incorporam inputs ao ângulo de ataque, limita a actuação sobre o estabilizador como resposta a dados errados sobre o ângulo de ataque e fornece um limitador desse automatismo”, que permite aos pilotos manter autoridade sobre o controlo do aparelho, escreve a empresa.

A Boeing diz que tem estado a trabalhar com o regulador da aviação civil nos EUA, a FAA (Federal Aviation Administration), no desenvolvimento, planeamento e certificação destas melhorias de software. Depois da interdição na Europa, a pressão ficou toda do lado da FAA que, até ao momento, se recusou a proibir voos neste modelo, ao contrário do que acabaria por fazer a congénere europeia, a EASA (European Aviation Safety Agency).

A FAA deverá, segundo a Boeing, emitir uma directiva sobre estes melhoramentos ainda este mês. O fabricante nota que o MCAS introduzido na série 737 Max “foi testado em voo durante o processo de certificação”. 

Suspeita-se que esse automatismo possa ter tido influência fatal no acidente de domingo, que matou 157 pessoas nos arredores de Addis-Abeba, tendo em conta o que se sabe sobre o que ocorreu: instável velocidade vertical (que mede o ritmo de ascensão ou descida de um avião); problemas nos primeiros minutos após a descolagem; e uma caída a pique.

O que, segundo pilotos, são dados consistentes com interferências erróneas do MCAS e que, por isso mesmo, fazem suspeitar que as novidades agora prometidas pela Boeing, com a bênção da FAA, poderiam ter ajudado a salvar o voo ET 302, da Ethiopian Airlines, se tivessem sido introduzidas de forma mais rápida após o acidente de Outubro de 2018 na Indonésia​.

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