Viva Nuno Diniz!

Tudo o que descobriu Nuno Diniz surpreende e enriquece. Andamos todos enganados quanto à gastronomia portuguesa.

Vivia eu, na minha ignorância, pensando que percebia de enchidos — até ler o verdadeiramente magnífico Entre Ventos e Fumos de Nuno Diniz. Chegado à última página fico com a impressão que nunca comi um enchido português digno desse nome.

O livro é magnífico, porque ousa imaginar o que seria um levantamento da gastronomia portuguesa que fosse ao fundo da questão, não só falando com os produtores, como convivendo com eles a tentar convencê-los que aquilo que fazem tem muito valor.

Como todos os grandes livros Entre Ventos e Fumos não é apenas sobre fumeiros e enchidos de Portugal. É também uma versão preciosa da obra-prima de Eça de Queiroz, A Cidade e as Serras: Nuno Diniz é um gastrónomo e cozinheiro lisboeta que conhecia tudo — até começar a passar as férias numa aldeia transmontana.

Tudo o que descobriu Nuno Diniz surpreende e enriquece. Andamos todos enganados quanto à gastronomia portuguesa. Ele mostra, pela forma mais nobre, que não existe o cozido à portuguesa: ele cozinha três ou quatro, respeitando e enaltecendo as tradições e as realidades regionais.

É um trabalho de antropologia, um livro de viagens, uma colecção de deliciosas polémicas, um generoso livro de receitas deveras originais (só foram feitas uma única vez, para nunca mais repetir) e um livro de boas fotografias e receitas para enchidos familiares, originais e deliciosos.

É um prazer guloso devorar este livro alegre e honesto e urgente. Prepare-se para se despedir dos muitos preconceitos gastronómicos escondidos pela sua ignorância.

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