“A vida continua”, diz jihadista francês condenado a prisão perpétua

Mehdi Nemmouche, o primeiro europeu a regressar da Síria para atacar na Europa, foi considerado culpado das quatro mortes do atentado no Museu Judaico de Bruxelas.

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Desenho de Nemmouche durante o julgamento Reuters/STRINGER

Um júri popular decidiu condenar a prisão perpétua o franco-argelino Mehdi Nemmouche, autor do ataque contra o Museu Judaico de Bruxelas em Maio de 2014. Nemmouche, radicalizado na prisão, passou um ano a combater com o Daesh na Síria antes de regressar à Europa e de atacar o museu da capital belga com uma Kalashnikov, matando quatro pessoas.

Na audiência antes da sentença,o procurador, Yves Moreu, defendeu que conceder qualquer atenuante a Nemmouche seria “indecente”, já que “se ele sair da prisão vai iniciar outra cruzada e voltar a matar”.

“Sr. Nemmouche, você não passa de um cobarde, matou pessoas disparando contra elas pelas costas, matou mulheres idosas com uma arma de guerra, você mata porque tem prazer em matar”, disse o juiz.

Nemmouche não disse nada durante todo o processo, que começou em Janeiro e teve entre as testemunhas os filhos do casal Miriam e Emmanuel Riva, turistas israelitas mortos no museu, e dois jornalistas que estiveram cativos na Síria e o reconheceram como um dos seus carcereiros. O relato deste sequestro, que é objecto de outro processo em França, mostrou, segundo o advogado, que o francês de 33 anos faz parte da “mesma manada” que os autores dos ataques de Paris e de Bruxelas, em 2015 e 2016, reivindicados pelo Daesh.

Nicolas Henin, um dos jornalistas, descreveu Nemmouche como “sádico e narcisista”.

A defesa tentou fazer impor a tese de que teria sido usado pelos serviços secretos libaneses ou iranianos para assassinar suspeitos agentes israelitas. Mas o próprio Nemmouche não disse uma só palavra sobre os seus contactos, motivações ou eventuais chefes.

Nacer Bendrer, nascido em Marselha há 30 anos, foi condenado por cumplicidade – terá fornecido armas e munições a Nemmouche – e vai passar 15 anos na prisão. Bendrer e Nemmouche conheceram-se precisamente prisão, onde o jihadista passou cinco anos por roubo. Ambos foram descritos como tendo sido radicalizados quando estiveram presos. Antes da deliberação do júri, Bendrer quis falar e lamentou ter “sujado o nome” dos seus pais. “Aceito, mas tenho vergonha de estar aqui. O meu destino está nas vossas mãos”, disse, antes de se dizer “envergonhado” por se ter cruzado com Nemmouche, “um monstro”.

“Se atacar um museu com uma arma de combate não é violento e bárbaro então nunca nada será violento e bárbaro”, disse outro dos procuradores, Bernard Michel. “Para o assassino, a identidade das vítimas importava pouco. O objectivo era apenas que existissem vítimas”.

Os procuradores belgas acreditam que Nemmouche foi o primeiro jihadista envolvido em atentados na Europa depois de regressar da Síria.

Depois de semanas em silêncio, na segunda-feira Nemmouche disse apenas três palavras ao júri: “A vida continua”. Segundo os jornalistas presentes no tribunal, pronunciou-as com um sorriso e estas soaram como uma última provocação dirigida aos magistrados e aos procuradores.

“Se vocês hoje não nos disserem que na Bélgica não se pode ser um terrorista sem se ser condenado seriamente, então não se espantem por ver pessoas desembarcarem com bombas ou armas de guerra nas malas”, disse ainda Yves Moreau, apelando aos 12 membros do júri para terem em conta que com o fim do Daesh na Síria se espera o regresso de muitos mais europeus que ali combateram.

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