Tomás Correia enfrenta primeiro teste à sua liderança

O conselho geral (CG) da Associação Mutualista Montepio Geral (AMMG) reúne-se esta terça-feira dividido em relação à continuidade de Tomás Correia à frente da maior instituição da economia social, mas sem competências para intervir, pois cabe-lhe apenas aceitar ou rejeitar um eventual pedido de renúncia que lhe seja apresentado.

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LUSA/ANTÓNIO COTRIM

O encontro está marcado para o início da tarde desta terça-feira e é a primeira vez que os 23 conselheiros se juntam desde que há três meses se realizaram as eleições para os órgãos sociais do Montepio, em funções no triénio 2019-2021. Dos associados que participaram na eleição, 43,2% votaram em Tomás Correia. 

É expectável que esta terça-feira os delegados da oposição a Tomás Correia surjam sintonizados a contestar a sua liderança, enquanto os seus apoiantes, entre os quais se destacam Maria de Belém Roseira e Vítor Melícias, se envolvam na sua defesa. Mas, na prática, os adversários de Tomás Correia têm pouca margem para intervir: não só CG não tem por competência destituir o presidente, mas cabe-lhe aceitar uma eventual renúncia, como não reflecte a pluralidade do corpo de associados. Tudo o que possa a vir a acontecer resulta de movimentações de bastidores, dado que Tomás Correia tem resistido nas actuais circunstâncias (com condenações do BdP e críticas de vários quadrantes).

Dos 23 membros que integram o conselho geral do Montepio, um órgão consultivo, apenas 12 foram eleitos pelos associados. E apesar de em conjunto terem garantido quase 67% dos votos, as duas listas que se opuseram a Tomás Correia, encabeçadas por António Godinho e por Fernando Ribeiro Mendes, apenas indicaram sete conselheiros – entre eles estão, por exemplo, dois antigos presidentes de bancos Alípio Dias (eleito pela lista de Godinho) e João Costa Pinto (eleito pela lista de Ribeiro Mendes).  

Os restantes 11 conselheiros ocupam o cargo por inerência: os cinco administradores executivos (Tomás Correia, Carlos Beato, Virgílio Lima, Luís Almeida e a ex-deputada do PS Idália Serrão), os presidentes e o secretário da Mesa da AG, os membros do Conselho Fiscal. Todos da lista de Tomás Correia. Vítor Melícias é por inerência presidente do Conselho Geral.

Tal como antes das eleições, o que está em discussão no Montepio é saber se Tomás Correia tem condições de continuar à frente da AMMG. E o que mudou desde a votação de 8 de Dezembro foram duas coisas: a confirmação de que o Banco de Portugal detectara falhas graves na gestão de Tomás Correia à frente da CEMG; o acentuar das pressões políticas, expressas, nomeadamente, na declaração do primeiro-ministro, António Costa, a defender a avaliação da idoneidade de Tomas Correia.

As condenações do BdP a Tomás Correia resultam da avaliação da sua gestão como presidente da CEMG entre 2008 e 2015, que concluiu, por exemplo, terem sido tomadas decisões de crédito dolosas e que prejudicaram o agora Banco Montepio, o principal activo dos 620 mil mutualistas. E que o impedem de exercer funções no sector financeiro.

O desfecho dos processos abertos no BdP não veio apenas confirmar os receios manifestados pela oposição ao longo da campanha eleitoral, quanto à idoneidade de Tomás Correia, e a que o poder político não deu atenção, mas acabou também por expor uma situação de pouca transparência à volta da gestão da maior instituição da economia social, tutelada por Vieira da Silva, enquanto ministro do Trabalho e da Segurança Social. Um quadro sensível que não abalou alguns dos gestores e políticos ligados ao Bloco Central. À revista Sábado, inquiridos se apoiariam novamente Tomás Correia, o ex-líder da bancada socialista Carlos Zorrinho, por exemplo, disse que sim. A mesma posição tomou a ex-ministra socialista Maria de Belém, que não vê na condenação conflito de interesses, e que defende que “a multa é passível de recurso”. Por seu turno, Luís Patrão, homem forte do PS, explicou à Sábado que “aquilo que foi tornado público foi relativo a actos de gestão noutra instituição” que não a Associação Mutualista. E o ex-deputado do PSD José Eduardo Martins manteria o apoio por conhecer Tomás Correia “há muitos anos” e o Montepio continuar a “ser o único banco privado português”.

Interpelado pelo PÚBLICO sobre as suas expectativas quanto ao desfecho deste primeiro conselho geral do Montepio, Ribeiro Mendes (que teve 20,5% dos votos dos associados) optou por não se pronunciar. Já António Godinho (que teve 36,3% dos apoios) apelou à saída de Tomás Correia e “à realização de eleições, livres e sérias, no mais curto espaço de tempo”, isto para “repor” um quadro de “legitimidade”: “Os pressupostos da eleição de há três meses foram erróneos” e “é fundamental haver novas eleições, com verificação de idoneidade de todos aqueles que se candidatarem”. Para Godinho “todo o processo de revisão de estatutos que se avizinha deve ser levado a cabo por uma nova administração, com toda a legitimidade para o efeito, evitando suspeições”.

Finalmente, Godinho diz que teme que o Montepio “esteja em risco devido à gestão ruinosa de Tomás Correia e da sua equipa” e lamenta a “contemporização que as autoridades no geral têm tido para com a gestão, não obstante os inúmeros sinais de alarme”. E sustenta que é “crucial” a “avaliação da idoneidade dos gestores e dos candidatos a gestores da instituição”, devendo o Governo “promover a clarificação da Lei se isso for necessário”, pois não o fazer “prejudica o Montepio, os associados e trabalhadores”.

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