Como a felicidade ajuda a evitar conflitos e a promover políticas de bem-estar

Encontro internacional em Lisboa reúne membros de governos e investigadores em torno da felicidade e do bem-estar.

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Charlein Gracia/Unsplash

O que tem a ver a felicidade ou a paz com o desemprego? E com a educação ou a saúde? Tudo, acredita Helena Marujo, coordenadora da cátedra de Educação para a Paz Global Sustentável da UNESCO. Nesta terça-feira, na reitoria da Universidade de Lisboa, discute-se como a felicidade, o bem-estar e a “paz positiva” pode ajudar ao desenvolvimento dos países. A proposta é da World Happiness Summit (Wohasu na sigla inglesa), que vai reunir membros de governos de 25 países com especialistas internacionais em economia, política, sustentabilidade, saúde, felicidade, bem-estar e psicologia positiva. A reunião chama-se H20, à semelhança do G20, sendo que o “h” é de “happiness”, felicidade.

Esta é a terceira vez que se faz um H20, mas a primeira fora dos EUA – os encontros anteriores foram sempre em Miami, EUA. Portugal faz parte de um grupo de seis países que assinaram a declaração conjunta da Coligação Global para a Felicidade e esta é uma das razões para ter sido escolhido como país anfitrião deste encontro. A Wohasu trabalha em parceria com a FreeBalance, uma empresa de software para ajudar países em situação de pós-guerra a reequilibrar a sua economia e a diminuir a corrupção, e que promove o Relatório Global sobre Políticas de Felicidade e de Bem-estar, ou seja, como é que os países aplicam os estudos já feitos nestas áreas nas suas políticas públicas. “O retorno à paz passa pelo conhecimento científico sobre a felicidade. Em perceber como medir e aplicar indicadores subjectivos, em vez dos objectivos como os económicos”, declara Helena Marujo, coordenadora do Executive Master de Psicologia Positiva Aplicada, no Instituto Superior de Ciências Sociais e Políticas da Universidade de Lisboa (ISCSP/UL).

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Helena Marujo é autora de livros e de estudos sobre a felicidade Miguel Manso

Recorde-se que o Butão já tem um indicador de Felicidade Interna Bruta; que os Emirados Árabes Unidos têm um Ministério da Felicidade, e que o Reino Unido tem um Ministério da Solidão, a pensar em políticas de bem-estar para os milhões de pessoas que vivem sozinhas. “Já existe muita investigação que pode ajudar a tomar decisões políticas. Por exemplo, há países que investem mais na prevenção da saúde mental, do que no seu tratamento”, exemplifica Helena Marujo, acrescentando que a ex-presidente da Costa Rica, Laura Chinchilla, é uma das palestrantes em Lisboa, porque o seu país foi considerado o mais feliz do mundo no que à pegada ecológica diz respeito.

Outro dos temas do encontro será a “paz positiva” que é diferente da “paz negativa”, informa a investigadora que também é autora de um estudo sobre a felicidade dos portugueses. A segunda é quando os países procuram impedir ou controlar conflitos, enquanto a primeira é “promover condições de felicidade para os seus cidadãos”, de modo a que os conflitos não surjam, explica, dando um exemplo concreto, o desemprego. “Há duas experiências que têm um impacto brutal na vida das pessoas: a viuvez e o desemprego. Um país que faz uma aposta grande na redução do desemprego, está a fazer um trabalho enorme na promoção da felicidade e do bem-estar porque o desemprego é mais do que a insegurança económica, é perda de identidade, de auto-estima, de realização e pode levar a conflitos.”

A felicidade não requer apenas condições materiais, mas também boa saúde (mental e física), educação, governos sem corrupção, empresas preocupadas, “e a liberdade de cada pessoa de prosseguir os seus sonhos”, aponta o relatório da Wohasu. “Queremos trazer uma linguagem nova à política e também uma nova reflexão pública, de maneira a assegurar que maior bem-estar não está só relacionado com a economia, a princesa das Ciências Sociais, mas com outras áreas das Ciências Sociais que conseguem ler o que se está a passar no mundo”, termina Helena Marujo.

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