O Paris FC quer deixar de ser um estranho na cidade do PSG

Criado por decreto para haver um clube na capital francesa na primeira divisão, o “outro” clube parisiense tem passado as últimas décadas no limbo, mas está bem lançado para finalmente sair da sombra.

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Os jogadores festejam no triunfo do Paris FC sobre o Lens Paris FC

Não se pode dizer que Paris seja uma grande cidade de futebol, não como Londres, Madrid, Roma ou Lisboa. Pode até ter, actualmente, um dos clubes mais ricos do mundo e o grande dominador do futebol francês, mas não se pode chamar ao Paris Saint-Germain (PSG) um clube histórico do futebol francês – muito menos do futebol europeu, como se viu, aliás, pela eliminação (mais uma) na Liga dos Campeões. E Paris não é propriamente uma grande cidade do futebol porque lhe falta uma rivalidade, tendo já há bastante tempo o PSG como único representante na Ligue 1, mas isso pode mudar na próxima época. Há outro clube com a Torre Eiffel no emblema e está pronto a sair da sombra, mas essa não é a única relação entre o PSG e o Paris Football Club (PFC). Durante duas épocas, foram o mesmo clube.

Em 1969 foi criado por decreto um clube chamado Paris FC, depois de um estudo feito pela Federação Francesa de Futebol sobre a viabilidade de se ter um clube parisiense na primeira divisão. Primeiro, formalizou-se a criação do clube, mas chegou-se a poucas semanas do início da época 1970-71 e esta nova equipa não tinha jogadores nem treinador. Tentaram uma aproximação ao Sedan, da primeira divisão, mas não houve acordo e, como era impossível entrar directamente no principal escalão, decidiu-se por uma fusão deste Paris FC com o Stade Saint-Germain, que tinha subido nessa época à segunda divisão, o Stade Saint-Germain, representante de uma cidade-subúrbio a 20 quilómetros do centro da cidade.

O novo Paris Saint-Germain FC jogaria no Parque dos Príncipes e começaria na segunda divisão. Essa era uma equipa que tinha Fernando Cruz, companheiro de Eusébio e outros no grande Benfica dos anos 1960, bicampeão europeu e um dos “Magriços” do Inglaterra 66, e que tinha Jean Djorkaeff, pai de Yuri, que também jogaria no PSG. Este PSG FC conseguiu a promoção ao escalão principal e, em 1971-72, não ficou longe da despromoção, apenas quatro pontos acima do primeiro dos que desceram, o Lille.

Mas a meio dessa época já tinha ocorrido uma votação de enorme significado: em Dezembro de 1971, a Assembleia Municipal de Paris aprovou uma resolução para ordenar o clube a mudar o nome para Paris FC sob pena de retirar os apoios camarários e despejar a equipa do Parque dos Príncipes. O casamento de conveniência termina poucos meses depois. O Paris FC fica na primeira divisão e mantém o direito de jogar no Parque dos Príncipes, o Paris SG perde a equipa profissional, mantém o nome e vai para a terceira divisão. Duas épocas depois, o PSG estava de regresso à Ligue 1, enquanto o PFC descia à Ligue 2. Ainda se encontraram na primeira divisão em 1978-79 (dois empates), mas esta foi a última época em que o PFC andou entre os grandes.

Nas quatro décadas que se seguiram, o PSG cresceu e secou praticamente toda a concorrência da cidade - a última época que Paris teve duas equipas na Ligue 1 foi em 1989-90, PSG e Racing, já sem o Matra - e é o que se sabe, um dominador absoluto do futebol francês bancado pelo seu dono do Qatar. Já o PFC foi definhando até quase ao ponto da extinção. Mas esta época surge bem posicionado para regressar à Ligue 1, dentro da zona que permite o acesso ao play-off de promoção – uma ascensão que acontece como mais um passo rumo à decadência do Red Star, o clube mais antigo de Paris e fundado por Jules Rimet, antigo presidente da FIFA.

O Paris FC chegou a andar pela quinta divisão do futebol francês e foi subindo em passo lento até à Ligue 2, onde está há duas épocas consecutivas. O segredo, disse o presidente Pierre Ferracci numa entrevista recente ao jornal The Independent, estava na modernização do clube e no investimento em infra-estruturas. “Investimos cinco milhões de euros e ainda temos mais dois milhões para gastar. Antes tínhamos as piores instalações da Ligue 2, agora temos as melhores“, declarou Ferracci sobre o novo centro de treinos do Paris FC.

E é nesta obra que está a chave do futuro do clube, diz Ferracci. Para além de já ter uma das melhores equipas femininas de França, o Paris FC também já tem outra capacidade para recrutar e trabalhar a sua própria formação. “Houve um dia em que almocei com Arséne Wenger e ele disse-me, ‘Se querem estabelecer-se como o segundo clube de Paris, a formação tem de estar no meio de tudo, porque Paris é um dos melhores campos de recrutamento do mundo’. Podemos não aguentá-los a todos, mas, pelo menos já podemos competir”, declarou Ferracci.

Mesmo tendo uma média de assistências das mais baixas da Ligue 2, o presidente do Paris FC diz que a promoção à Ligue 1 irá chamar adeptos e investidores: “Sentimos que há um desejo enorme de um clube diferente na cidade. Há adeptos que se identificam cada vez menos com o PSG. E que melhor marca pode haver do que Paris FC? Há investidores ingleses, americanos e chineses que já começam a andar aqui à volta.”

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