Tchau, chuvinha

Custa-me admiti-lo mas nisso da chuva eu não podia ser mais português: odeio a chuva, odeio molhar as meias, odeio molhar a cabeça.

Sempre que chove tento gostar da chuva. A minha mãe divertia-se a fazer troça dos portugueses que se abrigavam mal caía uma gota: “Look at them, terrified of a little rain.”

Choveu na quinta e eu desatei a elogiar a chuva miúda e a limpeza do ar, enquanto chovia – até desistir. Bastou-me olhar para a cara da Maria João para saber que não estava a convencer ninguém.

Mal cheguei a casa tive de trocar de roupa. Custa-me admiti-lo, mas nisso da chuva eu não podia ser mais português: odeio a chuva, odeio molhar as meias, odeio molhar a cabeça.

A minha mãe continua a ter razão — é uma pena não aprendermos a viver com a chuva —, mas eu vou deixar de me tentar afeiçoar a ela — a ela, chuva, não à minha mãe.

Ganhar juízo também é aprender a aceitar as derrotas da nossa vida. Se eu sei o resultado final — Chuva 63, Eu 0 —, é porque o raio do jogo já terminou. Assim fico com mais tempo e energia para me dedicar aos jogos em que ainda tenho uma vaga hipótese de ganhar.

Consola-me lembrar-me que a minha mãe odiava o vento com uma paixão doentia. Insurgia-se contra ele. Não aceitava que o vento tivesse alguma utilidade. Para fazer ondas horríveis no mar? Para fazer aquele barulho sinistro de filme de terror?

Ela até mantinha que o clima do Sul da Inglaterra era, em matéria de ventos, claramente superior ao português.

Claro que quando chovia horrivelmente a culpa não era da saudável chuva, mas do vento que a desendireitava.

Ela nunca tentou fazer as pazes com o vento — para quê? E eu nunca deveria ter tentado com a chuva.

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