Comunidades de Barcelos apresentam espectáculo sobre identidade

Cerca de 30 pessoas de comunidades em situação de vulnerabilidade social e seis músicos debruçam-se sobre o conceito de identidade este sábado à noite, no Teatro Gil Vicente, numa performance musical, visual e teatral totalmente original.

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Teatro Gil Vicente reabriu em 2013, depois de mais de duas décadas fechado DR

Quando ecoarem pelo auditório do Teatro Gil Vicente vozes de timbres vários, num momento de sonoplastia com frases sobre o conceito de identidade, estará dado o ponto de partida para um evento sobretudo musical, mas também visual e até teatral, que reúne cerca de 30 pessoas de algumas das freguesias da zona sudoeste do concelho de Barcelos, muitas delas em situação de vulnerabilidade social, e um lote de seis músicos. 

Denominado “Identidade”, o espectáculo agendado para as 22h deste sábado integra a programação do primeiro trimestre do Triciclo, iniciativa cultural da Câmara Municipal de Barcelos, e construiu-se com ensaios diários ao longo das duas últimas semanas. “Este projecto começou como uma página em branco e fomos subindo degrau a degrau, a cada dia”, explica ao PÚBLICO Samuel Martins Coelho, músico que vai dirigir o espectáculo e que, no seu currículo, já conta, por exemplo, com uma residência artística no âmbito de Valleta 2018 – Capital Europeia da Cultura. 

O resultado desse trabalho é uma nova identidade colectiva — a música é totalmente original —, forjada a partir das identidades individuais de cada pessoa, dos contextos associados às suas comunidades e das relações que se foram estabelecendo. As ideias que dão corpo ao espectáculo, reitera Samuel Martins Coelho, não surgiram apenas dos músicos, mas também de todos os outros participantes. Entre eles, há crianças, adolescentes e alguns pais, oriundos de contextos sociais difíceis. Um dos grupos envolvidos neste esforço de inclusão social é a comunidade de etnia cigana residente na freguesia de Barqueiros, na fronteira com o concelho de Esposende. 

A falta de formação musical é comum a todos eles, mas, para o director musical, esse problema acaba por ser secundário. “As pessoas das comunidades envolvidas nunca tiveram qualquer contacto com a música e com instrumentos, mas aqui o mais importante é que se saibam ligar e respeitar”, defende. 

Mas se o espectáculo é o resultado da sinergia entre pessoas, também o é do esforço conjunto entre instituições. Promovido pela Câmara Municipal, este trabalho tem o cunho do Centro Social, Cultural e Recreativo Abel Varzim, sediado na freguesia de Cristelo: é a entidade gestora do projecto Galoartis, que envolve muitos dos participantes. 

Criada em Março de 2016, no âmbito da sexta geração do programa Escolhas — está associado ao Alto Comissariado para as Migrações —, a iniciativa integra agora a sétima geração, até Dezembro de 2020, graças a um financiamento de 187.000 euros, refere ao PÚBLICO a coordenadora do projecto, Daniela Miranda. 

Para a responsável, o espectáculo de sábado à noite é mais um exemplo da importância do Galoartis para a valorização de pessoas com “ligação forte ao centro social” e tem o mérito de “juntar comunidades” que até hoje pouco se contactavam. “No sábado, teremos pessoas de etnia cigana e não cigana em palco, sem qualquer hierarquia”, destaca. “É importante fazer ver a todas estas comunidades que, no fundo, somos uma só”.

Cultura com serviço educativo

Este espectáculo, ressalva, no entanto, Daniela Miranda, só se vai poder realizar graças à promoção levada a cabo pela autarquia de Barcelos. O “Identidade” está integrado no Triciclo, uma iniciativa cultural criada em Outubro de 2018, com ciclos de programação trimestral, dedicados, sobretudo, à música alternativa. 

Contactado pelo PÚBLICO, o programador João Coutada refere que o Triciclo é um “projecto cultural tridimensional”, que apresenta espectáculos, que realiza acções de promoção dos artistas que vão actuar em Barcelos e que tem ainda um serviço educativo dedicado à comunidade. “É algo muito acarinhado por nós, porque nos permite trabalhar com várias das comunidades de Barcelos. Temos um espectáculo por trimestre, mas gostaríamos de ter mais”, disse.

O evento de sábado à noite é o segundo que vai decorrer no âmbito do serviço educativo, algo que a câmara vê também como uma oportunidade para formar públicos interessados em terem “novas experiências na sua vida cultural”, assume João Coutada.

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