Ainda e sempre a guerra contra as cidadãs

A luta da emancipação das mulheres é uma luta muito árdua, porque é difícil lutar contra as crenças, contra a fé das pessoas, contra a cultura.

A guerra contra as mulheres, designada por violência doméstica, já assassinou largas centenas de cidadãs no país, sem causar qualquer reacção do poder político, ao longo do tempo. Porque os representantes desta República viril consideram que a questão não é política mas sim doméstica, e assim a designam.

Teremos de ser nós, mulheres, a dar o nome aos bois. A violência contra as mulheres chama-se impotência. É disto que se trata, de uma cultura masculina incapaz de responder às suas próprias expectativas.

Se eu conseguir parafrasear Thomas Mann de memória diria que a cultura (a moral) patriarcal nada tem a ver com a razão, a democracia, a cidadania ou os direitos humanos, isto é, com a civilização.

O tão falado senhor Neto Moura que dá sentenças no Porto é certamente um homem culto por formação académica, mas parou no século XIX e não avançou com a civilização.

Através de uma cultura milenária as pessoas acreditam, como acreditam numa religião ou numa crença, como um acto de fé, que as mulheres são da esfera doméstica, subordinadas aos homens que, esses, pertencem a uma esfera pública, política.

A luta da emancipação das mulheres é uma luta muito árdua, porque é difícil lutar contra as crenças, contra a fé das pessoas, contra a cultura.

A maioria das vezes são as mulheres que não ajudam na luta pela sua liberdade e emancipação, a qual só poderá ser obra das próprias. Ou porque não é fácil olhar para o espelho e ver uma vítima, ou porque a filiação partidária as coloca em posições competitivas, ou porque acreditam na treta do mau feitio da colega, normalmente a mais competente.

As mulheres portuguesas são maioritariamente mais competentes e são competitivas a nível técnico e científico há mais de 30 anos no nosso país.

Eu não sei quantos processos judiciais irão ser colocados pelo senhor do Porto que ofendeu todas as mulheres do meu país (não se esqueça de mim), mas sei que entre a liberdade de expressão e o direito à honra e bom nome, o legislador deixou deliberadamente em branco a distinção entre ambos, para gáudio dos juristas, advogados e magistrados.

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