“Se houver um novo Presidente…” Al Gore acredita que EUA permanecerão no Acordo de Paris

Admitindo a possibilidade de os Estados Unidos permanecerem no Acordo de Paris e exigindo mudanças políticas, o activista ambiental, que tem feito das alterações climáticas a sua principal batalha, esteve esta quinta-feira no Porto — e não se coibiu de prestar elogios às políticas energéticas portuguesas.

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Al Gore deu uma palestra sobre consciência ambiental nesta quinta-feira, no Porto Adriano Miranda
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“Portugal tem estado na liderança na Europa e em todo o mundo” no que toca a questões ambientais, afirmou nesta quarta-feira o antigo vice-Presidente norte-americano Al Gore, que se tornou há anos uma das vozes mais activas no combate às alterações climáticas. Depois de agradecer os esforços de Portugal e do ministro do Ambiente, João Matos Fernandes, Al Gore salientou que as alterações climáticas são “uma urgência global”.

Al Gore criticou ainda o “instável” Presidente norte-americano, Donald Trump, pela sua intenção de sair do Acordo de Paris — mas disse acreditar que os Estados Unidos permanecerão no acordo internacional. “Se houver um novo Presidente…”, insinuou, juntando as mãos como quem reza ou pede “por favor”.

O activista ambiental norte-americano falava esta quinta-feira na Alfândega do Porto, numa palestra inserida na conferência Climate Change Leadership, promovida pela produtora vinícola Taylor’s com o intuito de encontrar soluções amigas do ambiente para a indústria do vinho. No ano passado, na primeira edição, o principal convidado foi o antigo Presidente norte-americano Barack Obama.​

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“Estamos a usar a atmosfera como um esgoto a céu aberto”, comparou, dizendo que a quantidade de gases com efeito de estufa produzida por humanos é demasiado elevada. “Isto é de doidos, temos de parar”, bradou o activista. 

“Durante 150 anos, pensámos que os sistemas naturais da Terra tinham uma capacidade ilimitada para se renovarem, mas agora apercebemo-nos de que isto está errado. Há mais fragilidade aqui envolvida do que alguma vez imaginámos; estamos a ter um impacto que ultrapassa a capacidade de renovação, portanto o crescimento tem de se tornar sustentável”, afirmou Al Gore, apelando à mudança. “As pessoas não conseguem viver muito tempo nestas condições [com o aumento da temperatura]”, concluiu. 

Autor dos documentários (e dos livros) Uma Verdade Inconveniente (2006) e Uma Sequela Inconveniente: A Verdade ao Poder (2017), o norte-americano é também o criador da organização ambientalista The Climate Reality Project. Ganhou ainda o Prémio Nobel da Paz em 2007, que partilhou com o Painel Intergovernamental para as Alterações Climáticas (IPCC) das Nações Unidas.

O gelo está a desaparecer, a temperatura da água a aumentar (e consequentemente a afectar a vida marinha), há cada vez mais refugiados climáticos, mais incêndios, mais seca, mais cheias, mais furacões, vagas de calor e de frio – as consequências das alterações climáticas são claras, avisa Al Gore.

Al Gore subiu a palco pouco depois da intervenção do ministro do ambiente, João Pedro Matos Fernandes, que falou da utilização de energias renováveis em Portugal e reiterou a importância de uma economia circular, assim como o compromisso nacional de aumentar a eficiência energética das casas e de valorizar transportes mais sustentáveis.

“Já vim a Portugal muitas vezes, mas nunca tinha estado no Porto, que cidade bonita. Porque é que as pessoas vão para Lisboa?”, brincou Al Gore. “O Porto é uma das pérolas deste mundo”, disse aproveitando para mudar de assunto para a Cidade do Cabo, na África do Sul, “uma das pérolas em risco” – no ano passado, o consumo de água na cidade ultrapassou a quantidade disponível e a cidade esteve em risco de se tornar a primeira metrópole mundial a ficar sem água.

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