Paquistão detém dezenas de terroristas para aliviar tensão com a Índia

Ministro dos Negócios Estrangeiros paquistanês saúda “desanuviamento” e quer voltar a dialogar com Nova Deli.

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Camião com produtos alimentares passa nesta quarta-feira da zona indiana para a zona paquistanesa de Caxemira AMIRUDDIN MUGHAL/EPA

A situação em Caxemira está em pleno processo de desanuviamento, depois de uma semana em que a Índia e o Paquistão estiveram muito perto de entrar num conflito aberto por causa da região.

As autoridades paquistanesas anunciaram a detenção de 44 elementos de vários grupos terroristas, incluindo do Jaish-e-Muhammad (exército de Maomé), que desencadeou a crise mais recente. O grupo jihadista esteve por trás do ataque suicida na zona de Caxemira controlada pela Índia que a 14 de Fevereiro matou mais de 40 polícias indianos, o pior das últimas três décadas na região.

O ataque motivou Nova Deli a bombardear alvos do grupo no território paquistanês. Há vários anos que a Índia responsabiliza o Paquistão por tolerar, e até apoiar, grupos terroristas para organizarem ataques no país para fazerem avançar a sua agenda – o Jaish-e-Muhammad defende a integração de toda a Caxemira no Paquistão.

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Imagens obtidas por satélite e reveladas esta quarta-feira mostram, contudo, que os bombardeamentos feitos pela Índia parecem não ter atingido nenhuma base do grupo terrorista. Quando comparadas com fotografias tiradas em Abril, as imagens captadas a 4 de Março, seis dias depois do ataque, não mostram qualquer sinal de destruição no local que a Índia diz ter visado. Na altura, o Paquistão tinha contestado a versão das autoridades indianas, que garantiam terem destruído uma base do Jaish-e-Muhammad e matado vários elementos do grupo.

Os bombardeamentos indianos configuraram uma das incursões mais profundas da Índia em território paquistanês e levaram Islamabad a responder com ataques junto à fronteira – e que acabaram em confrontos entre aviões dos dois países e a detenção de um piloto indiano.

Islamabad sem pressões

Entre os 44 detidos esta quarta-feira estão o irmão e um dos filhos do fundador do grupo, Masood Azhar, revelou o secretário do Interior, Azam Suleman Khan. Os nomes dos dois militantes estavam incluídos num dossier entregue pela Índia às autoridades paquistanesas, mas o Governo de Islamabad diz que as detenções abrangeram vários outros grupos terroristas para além do Jaish-e-Muhammad.

“Esta é uma decisão do Paquistão, trata-se no nosso próprio futuro e da nossa iniciativa, não estamos a fazer isto sob pressão”, afirmou o ministro do Interior, Shahryar Afridi, citado pela estação de televisão Al-Jazira.

Da parte da Índia não houve qualquer reacção às detenções, mas a proactividade das autoridades paquistanesas contra os grupos terroristas será bem recebida em Nova Deli, observam os analistas. Porém, há também algum cepticismo sobre as consequências reais das detenções.

Os elementos dos grupos terroristas estão em prisão preventiva, podendo ser libertados em breve caso as investigações não encontrem indícios suficientes para os manter presos. Na terça-feira, o Governo paquistanês aprovou uma regulação que autoriza o congelamento dos bens de organizações visadas por sanções das Nações Unidas, que inclui o Jaish-e-Muhammad. No entanto, uma vez que o diploma não é uma lei aprovada pelo Parlamento, poderá ser facilmente contestada judicialmente, explica a Al-Jazira.

O objectivo do Governo paquistanês parece ser o de mostrar à Índia que estão a ser tomadas medidas para conter os grupos terroristas e evitar novas crises como a da semana passada. Na sexta-feira, o Paquistão libertou o piloto indiano que estava detido depois de o seu avião ter sido abatido durante um confronto com as forças paquistanesas, no que foi definido pelo primeiro-ministro Imran Khan como um “gesto de paz”.

Esta quarta-feira, o chefe da diplomacia do Paquistão, Shah Mahmood Qureshi, saudou o “desanuviamento na tensão” entre os dois países e agradeceu o papel da comunidade internacional, sublinhando a “diplomacia privada” exercida pelos Estados Unidos.

Qureshi anunciou ainda o envio do principal diplomata paquistanês para a Índia, que tinha sido chamado para consultas na semana passada, e que Islamabad pretende avançar com as conversações com o país vizinho sobre o corredor de Kartarpur – uma ligação terrestre para permitir a circulação de peregrinos sikhs indianos possam visitar um importante templo no Paquistão.

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