Oposição indiana acusa Modi de utilização política das Forças Armadas

Partidos responsabilizam o primeiro-ministro de alimentar onda nacionalista para obter ganhos eleitorais e exigem provas do sucesso do ataque aéreo contra posições islamistas no Paquistão.

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Narendra Modi, primeiro-ministro da Índia Reuters/KIM HONG-JI

Os partidos da oposição indiana uniram-se no ataque a Narendra Modi e contra o que dizem ser uma politização das Forças Armadas pelo primeiro-ministro, no âmbito da onda patriótica que tem procurado cavalgar para alcançar um segundo mandato nas eleições que decorrem entre Abril e Maio.

Mas a estratégia afigura-se uma aposta arriscada, que pode ter o efeito adverso, tendo em conta o fervor nacionalista que tomou conta da Índia desde que um bombista suicida do grupo islamista Jaish-e-Muhammad (JeM), baseado no Paquistão, matou 40 polícias paramilitares em Caxemira, no dia 14 de Fevereiro.

Os analistas dizem que os partidos da oposição podem estar a cometer um erro ao questionar Modi sobre a segurança nacional em vez se se focarem em questões mais básicas, como o desemprego ou as dificuldades dos agricultores. Foram os eleitores preocupados com estes temas que no último ano afastaram o Partido Bharatiya Janata (BJP, nacionalista hindu), de Modi, em três eleições estatais.

Enquanto aumentam as dúvidas sobre o sucesso do ataque aéreo indiano contra o campo de treinos do JeM no Nordeste do Paquistão, no dia 26 de Fevereiro, a oposição entende que Modi está numa posição potencialmente vulnerável, por causa das reivindicações do Governo e do seu comportamento recente.

“Os partidos da oposição estão a coordenar e a debater esta questão uns com os outros todos os dias”, assumiu Derek O’Brien, deputado do Trinamool, de Bengala Ocidental, o terceiro maior partido da oposição na câmara baixa do Parlamento de Nova Deli.

“A estratégia passa, em primeiro lugar, por continuar a denunciar e a salientar que o Governo está a tentar apropriar-se das Forças Armadas. E, em segundo lugar, por demonstrar que isto está a ser levado a cabo por motivos puramente eleitorais”.

Na mira de O’Brien está o discurso de Modi num comício recente, no qual figuravam como pano de fundo fotografias dos polícias paramilitares mortos no atentado, assim como um evento público que contou com a participação de um líder do BJP vestido com um uniforme militar.

O BJP nega, no entanto, que esteja a utilizar as Forças Armadas de forma abusiva e para benefício político.

Desvio de atenções?

O maior partido da oposição, o Partido do Congresso, disse que a maioria dos partidos – há mais de 20, muitos deles baseados no sistema de castas – estão em sintonia quanto ao lançamento de um contra-ataque contra a posição do BJP que defende que a Índia necessita de um líder como Modi para fazer frente ao Paquistão

“O que temos a certeza é que o Governo está a desviar as atenções dos seus fracassos, porque foi derrotado em três eleições estatais, e que a narrativa está contra si”, afirmou Sanjay Jha, porta-voz do Partido do Congresso.

Os analistas prevêem que Modi e o BJP possam ganhar novo impulso com a resposta agressiva da Índia ao ataque bombista que, dizem, é visto pelos eleitores como decisivo e firme. 

O único problema é que a posição do Governo – que diz ter matado um número alargado de militantes islamistas no ataque – parece não ser verdadeira.

Imagens de satélite examinadas pela Reuters mostram que a escola religiosa e as instalações circundantes que foram alvejadas pela força aérea indiana não foram destruídas. E o Governo rejeita fornecer provas que corroborem as suas reivindicações.

“Vamos expor os fracassos do BJP, o número de membros das forças de segurança mortos, o aumento da militância e, mais importante de tudo, o elefante na sala, sobre o qual as pessoas não estão a falar: o falhanço monumental de Modi ao deixar Caxemira numa grave crise”, assegurou Jha.

As políticas de Modi em Caxemira – reivindicada por Índia e Paquistão e administrada pelos dois lados – têm sido mais duras do que as implementadas pelo Partido do Congresso, seu predecessor no Governo, com maior mobilização das forças de segurança e menos tentativas de relacionamento com a comunidade muçulmana que acredita num Estado separatista. 

Desde de que a onda de repressão foi lançada na região, na sequência do ataque bombista, já foram mortos 15 militantes islamistas em seis tiroteios diferentes. Doze membros das forças de segurança indianas e dois civis também morreram durante as operações.

Nos últimos dias, os líderes do BJP, incluindo o próprio Modi, criticaram a oposição por exigir provas do sucesso ou fracasso do ataque aéreo da passada semana. Nas redes sociais e em comícios políticos, o BJP acusa o Congresso e os seus parceiros de estarem a ajudar o Paquistão ao questionarem o ataque militar.

Os especialistas em política e sondagens estão convencidos, no entanto, de que Modi conseguirá resistir a quaisquer ataques da oposição relativos a questões de segurança.

“Não acredito que a oposição seja capaz de virar a narrativa a seu favor neste tema”, afiança Sanjay Kumar, director do think tank Center for the Study of Developing Societies [Nova Deli].

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