Rebuscado horror
Os lagostins são o "contraponto ideal" para o frango assado. Mas precisam ainda duma molhanga, não se vá notar o sabor desagradável a mar que os crustáceos teimam em ter.
Enquanto faço a barba espreito a televisão inglesa. Vejo uns lagostins vivos e paro nesse programa, o Saturday Kitchen na BBC1. Quem é que não adora lagostins?
Quem é o cozinheiro? É Michel Roux. É sábio e simpático e tem duas estrelas Michelin. Está a cozer os lagostins. Não me digam que vai servi-los assim, como eles merecem, inteiros e cozidos em água do mar, sem maionaise para não diluir o sabor delicado dos lagostins.
Mas não. Está a assar um frango para acompanhar os lagostins. E está a fritar uns croquettes de batata, sem os quais os lagostins fenecem.
Os lagostins são o "contraponto ideal" para o frango assado. Mas precisam ainda duma molhanga, não se vá notar o sabor desagradável a mar que os crustáceos teimam em ter.
O que leva este fino molho? Leva azeite, manteiga, uma chalota, um dente de alho, um decilitro e meio de aguardente e vinho branco (será suficiente?), dois decilitros de natas, concentrado de tomate e...mais manteiga.
Tudo isto, claro está, é para realçar os sabores tanto do franguito como dos lagostins. Haverá melhor combinação do que aguardente, vinho branco, natas e manteiga?
Quando é que as marisqueiras portuguesas vão aprender a servir os mariscos com os molhos de que carecem? Estaremos para sempre condenados à selvajaria de comer os crustáceos simplesmente cozidos?
Seria pedir muito que seguissem o exemplo de Michel Roux e se lembrassem de servir um frango com cada par de lagostins? E uns croquettinhos de batata para ensopar a embriagante molhanga?
Estamos tão atrasados...