Remates e más recepções de um lado, passes “de morte” e autogolos do outro

Um olhar diferente sobre o clássico, com lupa nas estatísticas menos comentadas e nas curiosidades escondidas. E uma surpresa na diferença entre Bruno Lage e Rui Vitória.

Foto
FC Porto e Benfica defrontam-se neste sábado no Dragão MANUEL DE ALMEIDA/Lusa

O clássico entre FC Porto e Benfica, marcado para este sábado, será um duelo entre rematar muito e rematar bem, apostar no drible ou no passe e jogar pelo ar ou pelo chão. Será, ainda, um tête-à-tête entre quem mais explora a profundidade e quem mais foras-de-jogo provoca. E isto já poderá dizer algo sobre o que se passará no Estádio do Dragão, na jornada 24 da Liga portuguesa.

A nível colectivo, o FC Porto é a equipa que mais duelos aéreos ganha no campeonato, e o Benfica surge bastante atrasado nesta tabela. Ainda assim, quem aparece em destaque no ranking individual até é Jardel, central do Benfica (está no terceiro lugar, com 5,2 duelos ganhos por jogo). Por extensão, FC Porto e Benfica são duas das três equipas que mais marcam de cabeça, enquanto o FC Porto é a equipa que mais golos faz em lances de bola parada.

Na qualidade técnica, FC Porto e Benfica estão ambos bem representados. Brahimi é o “rei do drible”, na Liga, enquanto Rafa, do Benfica, surge em terceiro lugar, e Corona, do FC Porto, em quarto. Apesar de Brahimi e Corona “tratarem bem” a bola, nem todos os portistas o fazem: Fernando Andrade é o terceiro jogador da Liga que mais bolas perde por jogo, sendo que é ainda, a par de Marega, o jogador com mais recepções de bola falhadas.

Curiosamente, apesar de estas duas equipas liderarem a Liga em posse de bola e dribles por jogo, nem FC Porto, nem Benfica estão sequer perto do top de equipas mais castigadas com faltas. Ainda em matéria de faltas, portuenses e lisboetas vivem com o estigma da agressividade de Felipe, de um lado, e Rúben Dias, do outro. No entanto, nenhum destes jogadores surge sequer no top-50 dos que mais faltas fazem por jogo (o portista nem no top-100 aparece). Importa acrescentar, ainda assim, que este dado é enviesado pelo facto de os defesas de FC Porto e Benfica serem menos solicitados do que de outras equipas menos capazes de ter a bola em seu poder. Felipe surge, isso sim, no ranking de jogadores com mais intercepções de bola.

Rematar muito vs rematar bem

FC Porto e Benfica são, como se esperaria, as equipas que mais rematam na Liga (ambas com 16,7 remates por jogo). Ainda assim, o Benfica acerta mais na baliza (6,8 contra 5,4) e concretiza mais: 64 golos marcados contra 47 do FC Porto.

Em matéria de busca pelo golo há dados interessantes sobre as fórmulas adoptadas por Conceição e Lage: o FC Porto, apesar de ter Telles e Brahimi, é a segunda equipa da Liga que menos desenvolve ataques pelo corredor esquerdo (apenas 32%), enquanto o Benfica é das que mais ataca pela linha “canhota”.

Não obstante, o lateral-esquerdo Alex Telles é, de longe, o jogador que mais cruza na Liga portuguesa e surge em quarto lugar no ranking de passes para finalização. Pizzi vem no segundo lugar desta estatística, como expoente maior de uma equipa “encarnada” que é a que mais passes faz para finalização.

A nível individual, a procura do golo tem significados diferentes para os atacantes de FC Porto e Benfica. Nos “dragões”, moram Soares e Marega, o primeiro e quarto jogadores que mais rematam por jogo na Liga, enquanto no Benfica, a nível individual, há mais distribuição da “ordem para atirar”. Em termos de “sociedades do golo”, as duplas Marega-Soares e André Almeida-Seferovic já valeram quatro festejos e são as mais “coordenadas” da Liga nacional, igualados pela dupla Bas Dost-Bruno Fernandes.

Num dado inusitado, mas que pouco dirá acerca das equipas e deste jogo, nota para o facto de entre os 11 autogolos que já existiram nesta Liga dois terem sido do Benfica: um de Rúben Dias, outro de Jardel. Curiosamente, foram ambos frente ao Portimonense, a última derrota do Benfica na Liga e jogo que marcou a saída de Rui Vitória do comando técnico da equipa. Os centrais “encarnados” são, ainda, os que mais vezes conseguem “apanhar” adversários em fora-de-jogo, algo que poderá servir de “aviso” a Marega e Soares, jogadores que tanto gostam de explorar a profundidade.

“Lageball” diferente de “Vitóriaball”? Sim, mas não nos números

Tem sido apregoada a diferença nos estilos de jogo do Benfica de Rui Vitória e de Bruno Lage, destacando-se o primeiro como adepto de ataques pelos corredores e investidas individuais e o segundo numa matriz de ligações interiores e passes curtos. Daqui seria fácil depreender que o Benfica de Bruno Lage faz e acerta mais passes do que o de Rui Vitória, mas os números não explicam tudo.

Até ao jogo com o Portimonense – o último de Vitória –, os “encarnados” faziam, em média, 509 passes por jogo. Desde que Bruno Lage “pegou” na equipa, o Benfica passou a fazer, em média, 498 passes por jogo. Mesmo os passes de sucesso continuam a ser favoráveis ao Benfica de Rui Vitória, ainda que a diferença seja escassa.

Sendo certo que os números não permitem medir a qualidade do passe, nem a forma como o passe deixa, ou não, o receptor em posição mais favorável, continua a ser curioso que o actual Benfica passe menos do que o do pré-Lage.

A talhe de foice, Fejsa e Jardel – jogadores que actuaram, sobretudo, com Rui Vitória – surgem no top-5 de jogadores com maior percentagem de acerto nos passes na Liga portuguesa.

Dados recolhidos no site Who Scored

Sugerir correcção
Comentar