Os humanos contra as máquinas (com a ajuda de Tim Hecker) no segundo Vivarium Festival

À segunda edição, o festival estende-se do Maus Hábitos para outros espaços do Porto. De 28 a 30 de Março, 30 propostas de 40 artistas respondem à pergunta Inteligência Natural, o que as Inteligências Artificiais ainda não podem fazer?.

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O músico Tim Hecker regressa a Portugal DR

Cada ser humano, no seu constante processo de adaptação à mudança, é um ambiente dentro de outro ambiente. Se no primeiro fôlego da humanidade se tiravam à Terra matérias-primas para a criação de ferramentas e outros artefactos de combate pela sobrevivência, características de um período de hominização que levou ao produto acabado que é hoje o ser humano, hoje cada um é uma peça independente de uma estrutura maior, em busca de algo mais do que resolver questões meramente práticas. Vivemos na era da hominescência, conceito explorado pelo filósofo francês Michel Serres, no livro homónimo, editado na viragem do milénio. O ser humano desligou-se da Terra, criou as máquinas, deu-lhes inteligência artificial e adaptou-se a elas.

É para retomar a discussão sobre as relações de convivência e de confronto entre a humanidade e a máquina, no contexto da criação artística, que pelo segundo ano consecutivo o festival de novos media Vivarium regressa de 28 a 30 de Março ao espaço Maus Hábitos, no Porto, agora em ligação com o Passos Manuel, o Ateneu Comercial e a Reitoria da Universidade do Porto.

Nesta segunda edição, 40 artistas, divididos por 30 propostas (exposições, performances, concertos, workshops e palestras), procuram responder à pergunta Inteligência Natural, o que as Inteligências Artificiais ainda não podem fazer?, reflectindo sobre as convergências e as divergências entre a inteligência natural e a Inteligência Artificial.

Do catálogo de artistas do sector musical, destaca-se o regresso a Portugal de Tim Hecker, para apresentar o novo álbum Anoyo. Mas também haverá Elizabeth Brown, Proc Fiskal, o brasileiro Ricardo Dias, a cantora lírica Magna Ferreira, com Tempus fugit, uma nova obra coral a capella, com recurso às palavras de Monteverdi e Álvaro de Campos, Yannick Hofmann, Stereoboy e BLEID.

As artes visuais e os novos media vão ocupar o Maus Hábitos com o projecto Picture Generation, arquivo fotográfico de 18 anos do espaço compilado pelo fotógrafo (e mentor do projecto), Daniel Pires. Paisagem, do escultor Isaque Pinheiro, uma intervenção site-specific com remissão para as composições de Mondrian, e a exposição Mala Noche, do fotógrafo francês Antoine D’Agata juntam-se a um programa que contará ainda com ainda obras de Justine Emard, Pedro Bandeira & 18:25, Catarina Rangel Pereira e Inês Castanheira.

O programa de performances, subordinado ao título Uma corda estendida entre o animal e o super-homem, uma corda sobre o abismo, em referência a Nietzsche, contará, entre outros com Nun on the Moon, de Dasniya Sommer, que explora a milenar arte do shibari (bondage japonês).

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Nun on the Moon, de Dasniya Sommer QUENTIN CHEVRIER

Para a Reitoria da Universidade do Porto – Biblioteca do Fundo Antigo estão marcadas duas conferências: E—X—S—I – Encontro Expressões entre o Som e a Imagem, e Criar conceitos – Seguir regras: Um diálogo improvável entre Deleuze e Wittgenstein, com participações de Charles Travis, Jean-Claude Dumoncel, Catarina Pombo, João Ribas e Francisco Santos, moderados por Sofia Miguens. A programação conta ainda com o workshop Enraizar para Virtualizar, de Isabel Valverde e Senses Places, na qual os participantes terão oportunidade para dançar com avatares.

O encerramento do festival coincide com as celebrações do 18.º aniversário do Maus Hábitos, que reunirão alguns DJ das festas emblemáticas da casa.

A curadora do Vivarium, Marianne Baillot, quer que esta iniciativa se transforme “no festival de new media do Porto”, onde diz justificar-se a existência de um espaço para um debate desta natureza. No confronto entre Inteligência Artificial e inteligência natural, considera que o ser humano ganhou um novo papel e uma nova identidade “desligado da Terra”. Alinhada com o conceito de hominescência de Michel Serres, afirma: “Os humanos vivem entre a criatura e o criador, entre o animal e a máquina, entre a besta e o soberano.”

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