Jornalista norte-americano detido duas horas após pergunta incómoda a Maduro

Jorge Ramos, pivô da Univision, foi detido com a sua equipa no interior do Palácio Miraflores, após confrontar Maduro com imagens de venezuelanos a vasculhar o lixo em busca de comida.

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O jornalista Jorge Ramos é o principal rosto da Univision, canal norte-americano de língua espanhola REUTERS/Carlos Garcia Rawlins

Jorge Ramos, repórter da televisão norte-americana de língua espanhola Univision, e a sua equipa, foram detidos no domingo, durante mais de duas horas, no Palácio presidencial venezuelano de Miraflores, em Caracas. A detenção ocorreu na sequência de uma entrevista a Nicolás Maduro, depois de o jornalista ter feito uma pergunta que desagradou ao Presidente venezuelano.

Segundo a Reuters, seis elementos da Univision vão ser agora expulsos do país. De acordo com um tweet de Daniel Coronell, presidente da Univision, o equipamento de trabalho da equipa, incluindo câmaras de filmar, foi confiscado. 

Em declarações à televisão, Jorge Ramos explicou que a ordem de detenção surgiu depois de o jornalista ter mostrado a Maduro uma fotografia de venezuelanos a procurarem comida no meio do lixo, confrontando o chefe de Estado com a existência de uma crise humanitária no país.

De acordo com o relato do El País, o momento de tensão ocorreu ao cabo de 17 minutos de entrevista e terminou com Maduro a levantar-se e a abandonar a sala. Jorge Rodriguez, ministro da Comunicação venezuelano, entrou então na sala para informar a equipa da Univision que a entrevista tinha terminado e que a divulgação estava proibida.

Depois, Ramos e os restantes membros da equipa ficaram retidos no palácio presidencial. “Estivemos retidos mais de duas horas dentro do Palácio Miraflores. (…) A entrevista ficou com eles”, disse o jornalista ao seu canal de televisão.

Ramos, norte-americano nascido no México, é um dos mais conhecidos jornalistas de televisão do mundo hispânico. Em 2015 tinha sido protagonista de outro incidente, quando o então candidato presidencial norte-americano Donald Trump o expulsou de uma conferência de imprensa após perguntas sobre as suas propostas de política migratória.

Em Washington, a responsável do Departamento de Estado para as Américas, Kimberly Breier, afirmou que a libertação do jornalista foi exigida de imediato. O México condenou igualmente a detenção, uma vez que também estavam em causa cidadãos mexicanos. “O nosso país exige respeito pela liberdade de expressão e reitera a obrigação de defender a segurança dos cidadãos mexicanos no estrangeiro”, lê-se num tweet do Ministério dos Negócios Estrangeiros mexicano.

A detenção foi condenada pela organização não-governamental Human Rights Watch, que afirmou que "a comunidade internacional deve estar alerta” perante mais um caso de perseguição a jornalistas na Venezuela.

Juan Guaidó, Presidente interino da Venezuela reconhecido pelos EUA e a União Europeia, também condenou a atitude de Maduro. “O desespero do usurpador é cada dia mais evidente”, escreveu no Twitter. “Não conseguiu sequer responder à pergunta de Ramos”, acrescentou.

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