O fim de Diaby: o craque que poderia ter sido, mas nunca foi

Aos 32 anos, o francês anunciou o final da carreira profissional. Era para ter sido o “novo Patrick Vieira”, mas não foi.

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Uma das várias lesões de Diaby, Action Images

Há futebolistas que passam a carreira sem lesões. Outros que são atormentados por problemas físicos. Acima desses, noutro patamar, há Abou Diaby, o “homem de vidro”. Tal como Arjen Robben, Tomas Rosicky ou Owen Hargreaves, Abou Diaby ganhou esta alcunha fruto das inúmeras lesões – mais de 40 – que sofreu durante a carreira. Na segunda-feira, aos 32 anos, o francês anunciou que o percurso de jogador profissional chegou ao fim, depois de tantos problemas físicos. E “tantos” é eufemismo. Outra alcunha que tem, também justa, é a de “best that never was” [o melhor que nunca foi], precisamente por nunca ter conseguido afastar-se das lesões e colocar, no relvado, todo o talento que tinha nas “botas”.

Diaby, nascido e crescido nos subúrbios de Paris, fez a formação entre Red Star, PSG e Auxerre, mas foi no Arsenal, ainda com 20 anos (mais um jovem francês “caçado” por Arsène Wenger ), que foi apontado como o “novo Patrick Vieira”. As semelhanças físicas, técnicas e até no estilo de jogo justificavam-no plenamente. Era um médio forte fisicamente, de passada larga, capaz no desarme – as pernas longas eram autênticos “alicates” na hora de roubar bolas – e com capacidade de sair em condução e até de aparecer em zonas de finalização. No fundo, um segundo médio – vulgo “box to box” – com tudo o que era preciso ter. Tudo menos “saúde”.

O calvário de Diaby (que assume que chegou a sonhar com a Bola de Ouro) começou logo em 2006, ano de estreia no Arsenal, quando falhou a final da Liga dos Campeões com uma rotura arrepiante no tendão de Aquiles, lesão que precisou de várias cirurgias para ser corrigida. Depois do regresso, Diaby começou uma sequência de lesões musculares que não mais o largaram. Até 2009, ainda fez cinco anos intermitentes e, a espaços, com bom nível, mas, de 2010 para a frente, passou mais tempo em salas de operações, ginásios e gabinetes de fisioterapia do que no relvado. No Arsenal, segundo o Telegraph, Diaby esteve 46,5% do tempo lesionado. Perdeu o futebol, perdeu o Arsenal, perdeu a selecção francesa e perdeu, sobretudo, o próprio Diaby, que passou ao lado de uma carreira que prometia. E muito.

A magnitude do talento de Diaby foi ilustrada por Paul Pogba – curiosamente, um jogador com um perfil semelhante ao de Diaby, ainda que com um pouco mais de “magia”. O jogador do Manchester United recordou que Diaby era “um box to box extraordinário”, acrescentando: “Infelizmente, teve muitas lesões. Olhem para ele quando estava no Arsenal. Era excepcional. As pessoas esquecem-se do Diaby, mas eu não me esquecerei. Aprendi muito com ele”.

Depois de dois anos quase sem jogar, no Marselha, Diaby decidiu colocar fim à carreira, em boa parte por culpa da lesão de 2006, que não mais o “largou”. O próprio jogador chegou a definir essa lesão como “o momento que matou tudo”. “Restringiu-me o tornozelo e eu, para compensar, sobrecarreguei outras partes do corpo”, explicou.

Para já, o futuro do francês passará pela Fundação Abou Diaby, focada em resolver problemas sociais nos bairros desfavorecidos de Paris e Londres, bem como por causas humanitárias em África e na Ásia. No futebol, por outro lado, não haverá mais Diaby. Mas o que houve – o pouco que houve – valeu a pena.

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