Trump diz que Coreia do Norte pode ser "uma das maiores potências"

Presidente norte-americano modera expectativas para a cimeira desta semana com Kim Jong-un: se não houver mais testes nucleares, já será bom.

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O Vietname prepara-se para receber Trump e Kim Reuters/JORGE SILVA

O Presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, disse que não tem pressa em finalizar um acordo para desnuclearizar a Coreia do Norte, e já ficaria satisfeito se o regime de Kim Jong-un não voltasse a testar o lançamento de mísseis ou a detonação de armas nucleares.

Mas, numa mensagem de incentivo para um Presidente norte-americano, Trump voltou a dizer que a Coreia do Norte pode vir a ser "uma das maiores potências económicas do mundo" se desistir do seu arsenal nuclear.

"Por causa da sua localização, do seu povo e dele próprio [Kim Jong-un], a Coreia do Norte tem mais potencial para um rápido crescimento do que qualquer outra nação!", disse o Presidente norte-americano no Twitter, no meio de uma série de mensagens sobre as negociações com a China.

A poucos dias da segunda cimeira com o líder norte-coreano, no Vietname, Trump disse que a China "tem ajudado muito" na aproximação entre os EUA e a Coreia do Norte. "A última coisa que a China quer é um arsenal de armas nucleares à sua porta. As sanções impostas na fronteira pela China e pela Rússia estão a ajudar muito. Tenho um óptimo relacionamento com o Presidente Kim!", disse o Presidente norte-americano.

Os dois líderes vão reunir-se em Hanói na quarta e quinta-feira, oito meses depois da histórica cimeira em Singapura – a primeira entre um Presidente dos EUA e um líder norte-coreano.

Em Singapura, os dois líderes comprometeram-se a trabalhar com vista à completa desnuclearização da península coreana, mas esse acordo vago produziu poucos resultados. Os senadores norte-americanos do Partido Democrata e as autoridades de segurança dos EUA alertaram Donald Trump contra a realização de um acordo que faria pouco para conter as ambições nucleares da Coreia do Norte.

"Não estou com pressa"

Enquanto Kim percorria a China de comboio em direcção à cimeira no Vietname, o jornal oficial da Coreia do Norte alertou Trump, no domingo, para não ouvir os seus críticos norte-americanos que o acusam de estar a atrapalhar os esforços de aproximação.

Em Washington, na véspera da sua partida para o Vietname, Trump disse que entre ele e Kim há "um relacionamento franco e muito, muito bom".

"Eu não estou com pressa. Não quero apressar ninguém", disse Trump. "Só não quero testes. Enquanto não houver testes, estamos contentes."

A Coreia do Norte realizou o seu último teste nuclear – o sexto – em Setembro de 2017. E o último míssil balístico intercontinental foi lançado em Novembro de 2017.

A Administração Trump pressionou a Coreia do Norte a abandonar o seu programa de armas nucleares que, combinado com os mísseis, representam uma ameaça aos Estados Unidos. Mas nos últimos dias, o Presidente norte-americano sinalizou um possível abrandamento, dizendo que gostaria de poder remover as sanções se houver um progresso significativo na desnuclearização.

Trump disse que ele e Kim esperam fazer ainda mais progressos na cimeira de Hanói, e voltou a dizer que a desnuclearização ajudaria a Coreia do Norte a desenvolver sua economia.

O ministro russo dos Negócios Estrangeiros, Sergei Lavrov, disse que os Estados Unidos pediram conselhos à Rússia sobre a Coreia do Norte, mas daí não resultou uma solução rápida para a tensão na península, avançou a agência de notícias Interfax.

Fim formal da guerra da Coreia?

Trump vai chegar ao Vietname na noite de terça-feira, segundo informações do Ministério dos Negócios Estrangeiros vietnamita. E na quarta-feira de manhã vai encontrar-se com o Presidente do Vietname, Nguyen Phu Trong, que também é secretário-geral do Partido Comunista.

O Vietname divulgou poucos detalhes sobre os preparativos para a cimeira, incluindo o local e o horário específico.

Sabe-se que Kim Jong-un está neste momento a viajar para o Vietname de comboio, através da China, e que passou pela cidade de Changsha esta segunda-feira, informou a agência de notícias sul-coreana Yonhap. Em princípio, chegará ao Vietname nas primeiras horas de terça-feira.

Um porta-voz da presidência sul-coreana disse aos jornalistas, em Seul, que os dois lados podem concordar em declarar o fim da Guerra da Coreia de 1950-1953. A guerra terminou com uma trégua, e não com um tratado.

O Presidente da Coreia do Sul, Moon Jae-in, apoia a abertura em relação à rival Coreia do Norte e elogiou Trump e Kim. A partir de Seul, disse que os que se opõem à melhoria dos laços na península, e entre a Coreia do Norte e os Estados Unidos, deviam "pôr de lado essas perspectivas tendenciosas".

Os Estados Unidos exigem a desnuclearização total, verificável e irreversível da Coreia do Norte como condição básica para o fim das sanções, uma posição que a Coreia do Norte considera ser "típica de gangsters".

Mas os recentes comentários de Trump parecem apoiar a ideia de que o seu governo está aberto a um acordo limitado na cimeira desta semana.

Os possíveis passos a seguir podem incluir a autorização para o envio de observadores internacionais, para acompanharem o desmantelamento do reactor nuclear de Yongbyon, e a abertura de escritórios de ligação entre a Coreia do Norte e os EUA.

O secretário de Estado dos EUA, Mike Pompeo, disse à Fox News que espera que sejam feitos "progressos substanciais" na cimeira. Mas disse também que a Coreia do Norte ainda não deu "passos concretos" com vista à desnuclearização, pelo que é possível que venha a ser organizada uma terceira cimeira.

O jornal New York Times noticiou que Pompeo admitiu, em discussões privadas, que os EUA teriam sorte se a Coreia do Norte concordasse em desmantelar 60% do que a Casa Branca exige. Se isso acontecesse, seria mais do que qualquer outra Administração conseguiu, acrescentou o responsável.

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