Diário

Vasco Pulido Valente diz que "a direita não tem nada a agradecer" a Assunção Cristas. "A tentativa falhada de encurralar Rui Rio, com uma moção de censura, fez o CDS cair no ridículo – e o pior que pode suceder a um partido político é cair no ridículo"

16 de Fevereiro

As trapalhadas com o túmulo de Franco mostram bem a natureza política do governo Sánchez. Dentro ou fora do túmulo, Franco divide a Espanha como em 1936. Já se ouvem nos comícios as palavras de ordem da guerra civil. Na direita, o “Arriba España!” e, na esquerda, o “No pasarán!”.

17 de Fevereiro

Rui Rio no Conselho Estratégico Nacional (1.500 conselheiros). Não gosta de conflitos partidários e do “bota abaixo”, nem da imprensa “imediatista”, e desconfia do Estado central, em particular, da justiça e do fisco. Acredita numa receita infalível para governar e num consenso nacional para apoiar essa receita. É um homem austero, solitário e discreto, que nunca apresentou a sua família aos portugueses. No fundo, é um rústico educado, tal qual como Salazar, com quem, de resto, partilha uma visão do mundo provinciana e pobre, agora ligeiramente modificada pela democracia. Talvez não se deva subestimar o que ele representa para boa parte do país.

18 de Fevereiro

Como parar a berraria de João Galamba em prime time? Simples: metê-lo no governo, porque, como se viu, ele não resiste ao carro, ao motorista e ao V. Exa. – e agora espalha em sossego as suas baboseiras pela paisagem.

O dr. António Costa, de cuja habilidade política nunca fui um crente, tem um dedo especial para o partido. Nesta remodelação despachou, com muita propaganda, dois ministros supranumerários para a “diletância política” de Bruxelas, e garantiu provisoriamente a unidade do partido, promovendo ao governo os chefes do radicalismo de esquerda, Pedro Nuno Santos e Duarte Cordeiro. E, para nada faltar, não se esqueceu de guilhotinar em público o “centrismo”, na melancólica pessoa de Francisco Assis.

19 de Fevereiro

O resvaladiço Carlos Costa, governador do Banco de Portugal, foi à televisão. Conheço o género: é o general que no dia da derrota, perante os mortos e os feridos, vem dizer que sempre cumpriu o Regulamento de Disciplina Militar.

20 de Fevereiro

A presença constante de Cristas na televisão e nos jornais não substitui uma política. A tentativa falhada de encurralar Rui Rio, com uma moção de censura, fez o CDS cair no ridículo – e o pior que pode suceder a um partido político é cair no ridículo. A dra. Assunção Cristas tem de perceber que as coisas não se movem a gesticulação, e que ela não tem atrás de si um batalhão de 80 deputados. Onde está, afinal, a prometida “modernização” do CDS e o “entusiasmo” que iria crescer até às eleições? O espectáculo patético na Assembleia da República só mostrou o desânimo e a desordem da sua pequena tropa.

A direita não tem nada a agradecer-lhe.

21 de Fevereiro

Sob forma de ameaça, Putin declarou a paz: não tenciona pôr na Europa mísseis de curto e médio alcance, a não ser que Trump ponha lá os dele. Putin sabe perfeitamente que a Europa é a última das preocupações de Trump, como se viu a semana passada na reunião da NATO, onde o discurso do vice-presidente Pence foi tão agressivo que ninguém se atreveu a aplaudi-lo.

O que está em jogo entre a “Europa” e a Rússia é a Ucrânia e o Báltico. Uma guerra que só interessa à Alemanha e que, definitivamente, não interessa à América.

A elite cosmopolita tem de se habituar a estas realidades rudes. 

22 de Fevereiro

O Presidente da República já limpou as mãos do marido e da mulher, e do pai e da filha. Mas não há só isto, há também o “primo direito”, João Cravinho (filho de João Cravinho) e dois amigos da casa, o ministro do Interior, Eduardo Cabrita, e o ministro da Economia, Siza Vieira. Isto, a mim, não me espanta. Não indica qualquer espécie de maldade, só demonstra o enorme abismo que separa, e (excepto por Soares) sempre separou, a direcção do PS do resto da sociedade portuguesa. Os socialistas, coitados, governam com quem conhecem, e não conhecem muita gente.

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