Marcelo, Deus e Dante

A última sondagem confirma a tendência de popularidade decrescente do nosso invulgar chefe de Estado.

1. Marcelo Rebelo de Sousa avisou que queria ser um Presidente muito próximo das pessoas, mas às vezes aproxima-se tanto que provoca desconforto. É isso que a última sondagem da Aximage evidencia, confirmando a tendência de popularidade decrescente do nosso invulgar chefe de Estado. Marcelo, que chegou a prometer abrandar em ano eleitoral, entra nos programas televisivos da manhã, presta assistência médica ao presidente do Sindicato dos Enfermeiros em greve de fome, anda de carrocel na exposição de Joana Vasconcelos. Mas, acima de tudo, perde o capital de confiança que os portugueses depositaram nele quando no fatídico Verão de 2017 foi porta-voz das vítimas dos incêndios florestais e avisou que não voltaria a candidatar-se a Belém se Portugal voltasse a ter uma tragédia parecida. "Dito por outros termos: voltasse a correr mal o que correu mal no ano passado, nos anos que vão até ao fim do meu mandato, isso seria, só por si, no meu espírito, impeditivo de uma recandidatura", garantiu Marcelo, em entrevista ao PÚBLICO/Renascença, em Maio do ano passado. Agora, a promessa de Marcelo mudou substancialmente ("Saio daqui com uma grande vontade, se Deus me der saúde e se eu achar que sou a melhor hipótese para Portugal, de me recandidatar", afirmou em Janeiro, no Panamá, embalado pela notícia de realização das Jornadas Mundiais da Juventude em Lisboa em 2022) e talvez seja isso que os portugueses não aplaudiram.

2. António Costa fez esta semana a segunda remodelação em quatro meses e enfrentou uma moção de censura. Contudo, em pleno Parlamento, teve o debate mais distendido dos últimos tempos. A moção de censura apresentada pelo CDS pôs os partidos a ensaiar os debates da campanha eleitoral que vamos viver no Verão, antes das eleições legislativas: PCP e BE vão discutir a herança de Passos Coelho, o PSD vai tentar explicar aos portugueses que Costa faz tantos ou mais cortes que Passos Coelho, o CDS vai fazer aquilo que faz bem que é fazer de conta que não esteve no Governo com Passos Coelho e o PS vai tentar não fazer muita campanha partidária porque está no Governo e porque Costa tende a perder votos quando avança para a rua na pele de candidato. E há os casos que, é certo, voltarão a aparecer: o prédio do antigo vereador do BE na Câmara de Lisboa Ricardo Robles que chegou a ser comercializado para alojamento local e a polémica venda de Assunção Cristas, quando era ministra, do Pavilhão Atlântico por ajuste directo a um consórcio do qual faziam parte os directores do Pavilhão Atlântico e o genro de Cavaco Silva.

3. Os sindicatos da CGTP são das instituições mais conservadoras e fiáveis do país. Fazem parte do regime. Não ultrapassam os limites. Cumprem as greves e concentrações que anunciam. Nunca há desacatos nas suas manifestações. Como se costuma dizer, são instituições de confiança pois não desiludem ninguém. Esta semana, o Conselho Consultivo da Procuradoria-Geral da República considerou ilegal uma greve mas da CGTP ou do PCP nem uma crítica. O crowdfunding ou as greves cirúrgicas são algo de que Arménio Carlos não gosta e nisso está ao lado de António Costa.

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