Inés Arrimadas é a arma (não tão) secreta do Cidadãos para as eleições espanholas

Albert Rivera procura argumentos para que o Cidadãos se destaque na aliança de direita que se prepara para tentar governar após as eleições espanholas de 28 de Abril. A líder da oposição aos independentistas catalães é a sua escolha

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Inés Arrimadas, a Catalunha foi só o princípio ENRIC FONTCUBERTA/EPA

Inés Arrimadas deve ser a arma não tão secreta do Cidadãos para as eleições legislativas antecipadas de 28 de Abril. Albert Rivera, o líder do partido que participa na aliança de forças de direita – que incluem o Vox, de extrema-direita – está a esforçar-se para trazer a líder da oposição ao governo independentista na Catalunha para o palco da política nacional. Tendo como bandeira sempre o nacionalismo espanhol e arremetendo contra o desafio dos catalães que desejam a independência.

O comício do Cidadãos em Madrid neste sábado, em que Arrimadas partilhará o centro das atenções com Rivera, será o primeiro momento deste salto para a ribalta, que poderá significar uma candidatura como topo de lista na Catalunha, para garantir que a advogada entre no Congresso Nacional como deputada, dizem os jornais espanhóis. Mas, oficialmente, esta estratégia não está confirmada.

Aliás, os planos para que Inés Arrimadas dê o salto para o palco maior da política nacional têm sido tratados em segredo absoluto, salienta o El País. Tanto tem sido o segredo que outros membros da direcção nacional, mesmo alguns dos mais próximos de Albert Rivera, não foram avisados. Foi o que aconteceu ao secretário-geral do Cidadãos, José Manuel Villegas, que ainda nesta sexta-feira de manhã garantia que a possibilidade de Arrimadas entrar na política nacional não estava a ser considerada. Mas horas depois, foi o próprio Rivera que fez declarações que parecem desmenti-lo: “Ela é a mulher mais importante, mais valente e mais preparada da política espanhola”, afirmou, ainda ambíguo.

Mas, a confirmar-se que Arrimadas é projectada para Madrid e para os palcos nacionais, deixaria vaga o papel de líder da oposição na Catalunha – na verdade, foi ela que ganhou as últimas eleições, convocadas depois da intervenção do Estado central na autonomia catalã, na sequência do referendo de 2017 e da declaração de independência no parlamento. Não governa porque não conseguiu coligar-se com outros partidos, e os independentistas refizeram uma aliança que lhes deu maioria suficiente para continuarem à frente da Generalitat.

À porta de Puigdemont

A própria Inés Arrimadas não faz comentários sobre o seu futuro próximo. Mas depois do comício em Madrid com Rivera, tem planeada uma viagem no domingo a Waterloo, a localidade nos arredores de Bruxelas onde está a viver Carles Puigdemont, o ex-presidente da Generalitat auto-exilado na Bélgica e em fuga da justiça espanhola.

Puigdemont ofereceu a Arrimadas “uma entrevista cordial”, o Cidadãos recusou. O que a líder da oposição na Catalunha pretende “é recordar a Puigdemont que a república não existe e que não é presidente de nada”. Isso não implica encontrar-se com ele, como diz num vídeo que divulgou nas redes sociais na quinta-feira.

Isabel Celaá, porta-voz do Governo de Pedro Sánchez, criticou a viagem de Arrimadas: “Não é sensato anunciar agora uma viagem a Waterloo para insistir numa política de confronto”, afirmou a ministra espanhola.

O presidente do parlamento catalão, Roger Torrent, aconselhou Arrimadas a não se limitar a ir até à porta de Puigdemont. “O que gostaríamos era que batesse à porta, entrasse e se sentasse a falar com o ‘presidente’ Puigdemont”, disse a partir de Bruxelas, citado pelo jornal El Períodico. “Como líder da oposição seria positivo que se reunisse com Puigdemont e entendesse a sua situação pessoal e política.”

Mas o estilo pessoal de Inés Arrimadas na questão catalã tem sido virado para o confronto, e não para o diálogo com os independentistas. Os ventos que percorrem a direita espanhola também sopram nesse sentido – um dos desafios nestas eleições, à direita, será ver quem tem um discurso de defesa da Constituição e da indivisibilidade do Estado espanhol mais credível. Albert Rivera aposta que, com Inés Arrimadas, tem essa aposta ganha.

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