DGPC quer classificar igreja do Foco, no Porto, e põe a envolvente sob protecção

Conselho Nacional de Cultura recusou proposta para classificação nacional todo o Parque Residencial da Boavista, projecto assinado, entre outros, por Agostinho Ricca, mas encontrou forma de proteger o conjunto.

Foto
Os prédios de todo o complexo residencial ficam na área de protecção à igreja. Adriano Miranda

A Direcção-Geral do Património Cultura arquivou o pedido de classificação do Parque Habitacional da Boavista, mais conhecido como Foco mas, ao mesmo tempo, abriu um processo para classificação da igreja e do Centro Paroquial de Nossa senhora da Boavista, integrada neste complexo, e definiu uma zona de protecção provisória que abrange – e de certa forma protege - toda a área residencial cujo plano tem a assinatura de Agostinho Ricca, João Serôdio e José Carlos Magalhães Carneiro, nomes importantes da arquitectura modernista em Portugal.

O despacho assinado pela directora-geral Paula Silva, segue o parecer da secção de Património Arquitectónico e Arqueológico do Conselho Nacional de Cultura, decidido numa reunião de 10 de Outubro, e que concorda com aquela que tinha sido a posição da Direcção Regional de Cultura do Norte. Esta entidade considerava que, apesar das qualidades óbvias do projecto e do programa urbanístico desenvolvido por aquele trio de arquitectos naquela zona do Porto, dada a existência de outros empreendimentos do período moderno com o mesmo nível de qualidade importância noutros pontos do país, seria “excessiva” uma classificação de âmbito nacional.

Tal como já tinha acontecido noutros pedidos relativos a este empreendimento, a DGPC decidiu enviar a proposta de classificação – entregue, no ano passado, pelo arquitecto João Luís Marques – para a Câmara do Porto, a quem caberá avaliar se o complexo merece ou não uma classificação de âmbito local. Sorte diferente terão a igreja e o centro paroquial de Nossa Senhora da Boavista, pela sua “qualidade e excepcionalidade no âmbito da arquitectura moderna religiosa em Portugal articulada com um programa iconográfico da autoria de mestres consagrados como Júlio Resende, Zulmiro de Carvalho, Manuel Aguiar e Francisco Laranjo”.

A DGPC abriu um processo para classificar estes dois imóveis do Foco e, mais do que isso, o Conselho Nacional de Cultura considerou que a ZEP automática (50 metros em volta dos edifícios) seria insuficiente, avançando com a definição de zona especial de protecção provisória que acaba por abranger todo o Parque Residencial da Boavista. O que, segundo a legislação em vigor implica que as obras nesta zona, que alterem o seu exterior e os arruamentos, passam a estar dependentes de parecer vinculativo da tutela do património. Isto deverá incluir a intenção de transformação do antigo hotel e de espaços na envolvente, numa nova unidade hospitalar, cujo projecto foi, segundo o que consta no processo de classificação, indeferido pelo município, no ano passado, mas não terá sido abandonado pelos promotores.

Esta ZEPP, bem como a proposta de classificação, podem ser contestados nas próximas semanas, como previsto legalmente. O último pedido de classificação do Parque Residencial da Boavista surgiu na sequência de novas polémicas envolvendo intervenções em edifícios deste complexo. Em Janeiro de 2018, várias vozes ligadas à arquitectura e à defesa do património arquitectónico levantaram-se contra a intenção, então já aprovada pelo município, de integrar nos trabalhos de “reabilitação” de um edifício de escritórios uma obra do artista Vhils. Este viria a desistir da obra, mas o certo é que a situação voltou a colocar na agenda a necessidade de se encontrar um mecanismo de protecção deste edificado.

É nesse contexto que em Maio do ano passado, o arquitecto João Luís Marques avança com um novo pedido de classificação, que seguiu acompanhado de uma petição pública com mais de 1900 assinaturas pedindo à autarquia a classificação de todo o complexo como património de interesse municipal, uma carta aberta da arquitecta Ana Tostões, presidente do comité internacional Do.Co.Mo.Mo, que trabalha para documentação e conservação de edifícios, sítios e áreas residenciais do movimento moderno, outra do Forum cidadania Porto, a pedir à DRCN a reapreciação, urgente, de um pedido de classificação já feito em 2010 e uma outra proposta de classificação assinada por 68 pessoas, quase todas ligadas ao ensino da arquitectura, e entre as quais se contava o pároco da igreja de Nossa Senhora da Boavista.

Corrigido o primeiro parágrafo: Onde se lia metade desta área passa a constar toda a área, como adiante aliás, já se referia, correctamente. 

Sugerir correcção
Ler 1 comentários