PCP propõe nova ligação ferroviária entre Braga e Guimarães

Hoje os utentes do comboio entre as duas cidades demoram hora e meia a fazer cada viagem, com transbordo numa estação a meio caminho para o Porto. São três horas por dia só para a deslocação entre casa e trabalho.

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Andre Rodrigues

Para quem vive em Braga e trabalha ou estuda em Guimarães, ou vice-versa, fazer diariamente o percurso de transportes públicos entre as duas cidades é quase um martírio, apesar de estarem a escassos 22 quilómetros de distância. A viagem de comboio demora cerca de hora e meia, a de autocarro pelo menos uma hora. Se escolher viatura própria, além do combustível, são precisos 1,65 euros de portagem (por viagem), paciência para o trânsito e voltar a abrir a carteira para o estacionamento do dia inteiro - mas é possível fazer a viagem em 15 minutos.

No caso da ferrovia, é preciso apanhar em Braga o comboio com destino ao Porto, sair na estação de Lousado (concelho de Vila Nova da Famalicão, já a meio caminho até ao Porto) e apanhar aí o que vier do Porto com destino a Guimarães, voltando a "subir" no mapa. É o triplo do caminho que seria preciso se houvesse uma ligação directa entre a chamada cidade dos arcebispos e a cidade-berço. E é isso mesmo que a bancada do PCP vai propor na Assembleia da República através de um projecto de resolução que irá entregar nos próximos dias.

O diploma recomenda ao Governo que faça o estudo técnico e financeiro para fechar a malha ferroviária entre Braga e Guimarães através de uma ligação directa, anunciou nesta terça-feira de manhã o líder parlamentar João Oliveira numa visita à estação da CP bracarense. Os comunistas admitem não ter quaisquer indicações de quanto poderá custar a obra - e daí pedirem que o Executivo faça os estudos - mas defendem que a solução deve passar por uma linha de bitola ibérica e não uma solução mais leva como a encontrada para o ramal da Lousã.

Os deputados João Oliveira, Bruno Dias, Carla Cruz e João Dias, e o eurodeputado João Ferreira esperaram no cais pela chegada de três comboios vindos do Porto entre as 8h e as 9h, e foram distribuindo panfletos com a proposta para a ligação directa. Mas sem esquecer as palavras de ordem: "Avançar é preciso! Mais e melhores transportes públicos". Com mais ou menos pressa, os passageiros lá iam pegando nos papéis que lhes estendiam os deputados comunistas que cumprimentavam com um "Bom dia. Mais investimento nos comboios." Poucos pararam para meter conversa mas também não se viu o virar de costas mais habitual nas campanhas eleitorais.

Aos jornalistas, João Oliveira realçou que o investimento nos transportes públicos, em especial na ferrovia, é uma das prioridades para o desenvolvimento do país e até ficou excepcionado das cativações nos orçamentos do ano passado e deste ano. Considerou que as condições em que hoje se faz a ligação entre Braga e Guimarães são "insustentáveis", não respondem às necessidades de quem se desloca entre as duas cidades - que até dividem entre si os polos da Universidade do Minho - e afastam os passageiros do transporte ferroviário empurrando-os para a viatura pessoal.

O deputado comunista defendeu que a questão deve ser pensada em articulação com o programa de apoio à redução tarifária que será aplicado a partir de Abril, já que esta nova estratégia para a mobilidade inclui não só a diminuição dos preços como também o alargamento da rede e o investimento em novas ligações.

Questionado sobre o facto de a pasta das Infra-estruturas estar agora nas mãos de Pedro Nuno Santos - que desde 2015 era o pivot das negociações entre os partidos à esquerda do PS e o Governo – pode facilitar a atenção para estas propostas comunistas, João Oliveira vincou que o que é "relevante e decisivo" não são as "opiniões pessoais" ou as "características da personalidade" dos membros do Governo mas sim as "opções políticas e o posicionamento" do Executivo.

João Oliveira admite que no caso da ligação ferroviária directa entre Braga e Guimarães o PCP tem estado sozinho mas espera ter agora outros partidos do seu lado para poder fazer a obra não só com dinheiro nacional, mas aproveitando também os fundos comunitários.

O problema da falta de ligação directa de Braga a Guimarães repete-se também para o lado poente: Barcelos está no mapa à mesma distância, mas a viagem de comboio obriga igualmente a um transbordo na estação de Nine, para mudar para a linha do Minho (Porto-Valença). O problema da mobilidade entre estas três cidades não se esgota na ferrovia. A deputada Carla Cruz, eleita pelo distrito, diz que falta também uma estratégia integrada com outro tipo de transporte, como os autocarros, que não cobrem toda a malha industrial da região.

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