"Não, não e não". Carlos Costa nega ter aprovado créditos ruinosos na Caixa Geral de Depósitos

O governador do Banco de Portugal diz que muito raramente participava em reuniões do Conselho de Crédito e garante que não esteve em reuniões em que foram decididos créditos problemáticos.

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LUSA/ANDRE KOSTERS;André Kosters

O governador do Banco de Portugal nega ter estado na decisão dos créditos ruinosos identificados pela auditoria da Ernst & Young na Caixa Geral de Depósitos enquanto foi administrador do banco público. "Os créditos em que participei não geraram perdas para a Caixa", garantiu Carlos Costa em entrevista à SIC Notícias.

"Os créditos mencionados na auditoria independente foram créditos em que não participei", disse Costa. O governador especificou que não fez parte da decisão sobre nenhum dos 25 "grandes créditos" identificados pela E&Y. "Foram decididos em reuniões do Conselho Alargado de Crédito em que não participei. Está claramente demonstrado na auditoria independente", afirmou.

O governador tem estado debaixo de fogo pela sua passagem na administração da CGD, entre 2004 e 2006, e apenas tinha garantido que os créditos não eram da sua competência. A revista Sábado publicou na semana passada actas de reuniões do conselho de crédito em que foram decididos alguns dos créditos ruinosos para o banco público. Dizia a revista que Carlos Costa teria participado em algumas dessas reuniões decisórias.

Confrontado com as datas concretas, Carlos Costa confirmou que esteve presente numa reunião daquele conselho que fez uma "decisão de princípio" sobre a concessão de crédito para o negócio do empreendimento de Vale do Lobo, mas, garantiu o governador, não foi nem a decisão final nem vinculativa. "A operação de crédito a Vale do Lobo, em que a CGD decidiu participar, foi decidida num conselho alargado em que não estava presente. Há uma reunião anterior em que se discute em que condições a CGD podia participar num investimento de Vale do Lobo - era uma decisão de princípio. Nessa estava", disse. Mas acrescentou que nessa "decisão de princípio" nem se sabia se havia comprador e a operação aprovada "não teve nada a ver com os princípios decididos na reunião" em que esteve presente. "Não havia nenhum candidato à aquisição", disse. 

Sobre os restantes casos, nomeadamente sobre os créditos concedidos ao empresário Manuel Fino, Carlos Costa negou que tenha feito parte das reuniões que decidiram essa concessão de crédito. Além disso, referiu durante a entrevista, apenas "ocasionalmente participava no Conselho Alargado de Crédito porque não tinha essas competências". "Nunca presenciei qualquer atitude ou movimento que lesasse os interesses da CGD do ponto de vista da concessão de crédito", assumiu.

"Não tenho de me considerar fragilizado"

O governador recusa ainda ser avaliado porque diz que isso está impedido pelas regras que se aplicam aos governadores, e que o que está estabelecido é que irá prestar declarações às comissões de ética quer do Banco de Portugal quer do Banco Central Europeu. "Eu não tenho que me considerar fragilizado por coisas que não cometi e que são falsidades. O teste de idoneidade não se aplica, o que se aplica aos governadores são os procedimentos do tratado. Eu informo a comissão de ética e, se alguém tem provas que me ponham em causa, tem toda a possibilidade de percorrer os procedimentos do tratado e exonerar-me", referiu.

Carlos Costa garante não ter problemas de consciência e que não foi por sua "convicção pessoal" que pediu escusa da avaliação de outros administradores, mas para "proteger a decisão do conselho de administração". Em causa está o facto de o BdP estar a avaliar a idoneidade de antigos administradores que passaram pela Caixa Geral de Depósitos.

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