As Portas de São João viraram-se para a Rua dos Mercadores e deram-lhe vida

Fotogaleria

Reabilitar significa, para a equipa do gabinete Meireles Arquitectos, “respeitar”. Especialmente quando se tratam de “edifícios classificados como património mundial, como são os da Ribeira do Porto”: nesses casos, a “intervenção do arquitecto deve ser a mínima possível". "A sua marca tem de lá estar, mas não tem de estar destacada”, acredita Mário Meireles, arquitecto responsável pelo projecto Portas de São João, no número 77 da Rua dos Mercadores, no Porto.

Quando o edifício lhes chegou às mãos, sabiam, à partida, que teriam de o “adequar às condições de habitabilidade que são exigidas nos dias de hoje”, mas também que o prédio — antiga casa de um mercador — tinha “o seu mérito” e que não iriam “acrescentar muito mais”. Optaram, então, por uma “intervenção singela”. “No exterior, limitámo-nos a reabilitar o que já existia. Colocámos caixilharias de vidro duplo e chegámos ao cúmulo de desmontar janelas existentes, levá-las ao carpinteiro e pedir-lhe para fazer uma cópia exacta”, explica ao P3 Mário Meireles. 

Lá dentro, foram feitas “alterações significativas”, mas mantidos elementos da construção inicial: as escadas, “bastante largas” — algo pouco comum para um edifício que remonta a 1884 —, a madeira dos pavimentos, as paredes de tabique e as lareiras, que foram “novamente integradas, de modo a conferir maior conforto ao espaço”. São cinco pisos reabilitados, mais um que nasceu no topo para receber dois estúdios. Cada andar tem dois apartamentos — um T2 orientado para a Rua dos Mercadores e um T1 virado para a Rua de São João. 

No cimo das escadas, há uma clarabóia “lindíssima” — uma espécie de “esqueleto” — preservada da construção inicial. “Todas as clarabóias são feitas com uma estrutura de madeira e nós quisemos mostrar isso às pessoas. Fizemos uma reinterpretação e simplificámo-la ao máximo, de forma a ficar só a estrutura, e fomos redesenhando”, refere o arquitecto. O resultado é “um candeeiro com luz natural”, como mostra a sexta imagem da fotogaleria.

Se, no passado, a Rua dos Mercadores tinha um papel central na cidade do Porto — “era uma rua onde viviam os mercadores, pessoas bastante abastadas” —, com “o desenrolar dos tempos e com a história mais recente do Porto transformou-se numa rua perdida”. A pensar nisso, a equipa tomou uma “decisão de risco”: colocar a entrada das habitações por esta artéria e não pela de São João, que dá nome ao projecto e por onde se acede a um espaço comercial. “Sabíamos que se fizéssemos a entrada pela Rua dos Mercadores, mais arquitectos se iriam sentir confortáveis para fazer o mesmo e mais rapidamente iríamos reabilitar a própria rua.”

Este mês, o projecto conseguiu o primeiro lugar na categoria Recuperação Renovação nos World Architecture & Design Awards, atribuídos pelo portal Architecture Press ReleaseE em Novembro de 2018 foi distinguido com uma menção honrosa no Architecture Master Prize, na categoria Arquitectura Residencial. “É um prémio internacional que hoje em dia é uma óptima referência”, aponta Mário Meireles. Não foi apenas um galardão para o gabinete de arquitectura, mas também “para a cidade do Porto”, nas palavras do arquitecto.

João Morgado
João Morgado
João Morgado
João Morgado
João Morgado
João Morgado
João Morgado
João Morgado
João Morgado
João Morgado
João Morgado
João Morgado
João Morgado
João Morgado
João Morgado
João Morgado
João Morgado
João Morgado
João Morgado
João Morgado
João Morgado
João Morgado
João Morgado
João Morgado
João Morgado
João Morgado