Em ano de eleições na Índia, a tensão em Caxemira volta a disparar

O Exército indiano lançou uma operação contra os separatistas que mataram 42 soldados na semana passada. Proximidade das eleições legislativas pressiona o governo a endurecer a sua posição no território.

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Militares indianos numa patrulha em Jamu e Caxemira LUSA/FAROOQ KHAN

O clima de tensão entre a Índia e o Paquistão por causa do território de Caxemira subiu mais um pouco esta segunda-feira, com a morte de quatro soldados e um polícia indianos numa troca de tiros com militantes separatistas. O tiroteio aconteceu durante uma operação do Exército da Índia contra o grupo islamista paquistanês Jaish-e-Mohammed, responsável pelo ataque suicida da semana passada que matou 42 soldados indianos – o mais mortífero dos últimos 30 anos.

A operação teve lugar na aldeia de Pinglan, perto de Srinagar, a capital do território de Caxemira controlado pela Índia. Segundo o canal de televisão Al-Jazira, as autoridades indianas receberam a indicação de que alguns dos envolvidos no ataque da semana passada estavam escondidos na aldeia.

A troca de tiros entre os soldados indianos e os suspeitos de pertencerem ao grupo separatista Jaish-e-Mohammed durou várias horas e fez pelo menos nove mortos – para além dos quatro militares e um polícia indianos, foram mortos três rebeldes armados e um civil, identificado como Mushtaq Ahmad, de 30 anos.

"A casa dele estava entre as que foram atacadas. Ele deixou duas crianças, de quatro e três anos. Foi arrastado para fora de casa logo de manhã pelo Exército [indiano] e morto. Outro rapaz foi atingido por uma bala numa perna", disse à Al-Jazira um habitante da aldeia, Ghulam Nabi.

Indianos pedem resposta dura

O ataque da semana passada e a resposta do Exército indiano surgem numa altura muito delicada, depois de alguns anos em que as duas partes foram conseguindo gerir as tensões.

A situação agravou-se em Julho de 2016 com a morte de Burhan Wani, comandante do grupo separatista Hizb-ul-Mujahideen e visto como o impulsionador de uma nova época de combate contra o domínio indiano. A sua morte, num tiroteio com o Exército indiano, deu origem a sete meses de violentos protestos na região, com mais de 120 mortos e 15 mil feridos entre a população civil.

E, dentro de dois meses, a Índia vai escolher o próximo Governo numas eleições muito disputadas. Na corrida à reeleição está o primeiro-ministro, Narendra Modi, dos nacionalistas do Partido Bharatiya Janata – que está a ser pressionado para responder ao ataque suicida da semana passada de uma forma muito dura.

Há mais de 70 anos que Caxemira é a maior espinha atravessada entre a Índia e o Paquistão, com o mundo a suster a respiração de cada vez que os dois países com poder nuclear ficam mais perto de um confronto directo.

A Índia e o Paquistão dividiram a soberania do território em 1947, após a independência indiana do domínio britânico. A Norte, o Paquistão administra as regiões de Gilgit-Baltistão e Caxemira Livre; e a Sul, a Índia administra o estado de Jamu e Caxemira.

Ambos reivindicam a soberania sobre a totalidade do território: a Índia por razões históricas que remontam à época da sua independência, e o Paquistão por causa da maioria muçulmana em Jamu e Caxemira.

Depois de três guerras – em 1947, 1965 e 1999 –, os dois países assinaram um acordo de paz em 2003, mas o cessar-fogo foi violado por várias vezes desde então.

Os grupos separatistas, que lutam ou pela independência de toda a Caxemira ou pela sua integração no Paquistão – como o Jaish-e-Mohammed e o Lashkar-e-Toiba –, são acusados pela Índia de serem apoiados por Islamabad e de terem ligações profundas aos serviços secretos paquistaneses. O Jaish-e-Mohammed tem a sua base no Paquistão e o seu líder, Masood Azhar, vive em liberdade no país.

Na prática, a Índia acusa o Paquistão de usar os grupos separatistas para criar tensão em Caxemira, mas o Paquistão desmente essas acusações e diz que é a principal vítima do terrorismo.

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