Anda tudo trocado

Anda tudo trocado” é climate change em português vernacular. Nota-se em tudo

É mais um dia lindo em Fevereiro. Há quem tome banho no mar. Já há cebolinho. Em Janas dou com quatro andorinhas acabadas de chegar. Havia mosquinhas recém-nascidas à espera delas.

Quando vou perguntar se vivem lá todo o ano dizem-me que não, que é o primeiro dia delas. E depois acrescentam esta frase que toda a gente diz quando aparecem coisas fora dos tempos habituais: “anda tudo trocado”.

“Anda tudo trocado” é climate change em português vernacular. Nota-se em tudo. No peixe causa confusão. A dourada que costuma estar melhor no Inverno anda magra e sem ovas. Neste mês de Fevereiro os linguados estão gordos e cheios de ovas. Há salmonetes deliciosos. Há ruivos e cantaris que parecem saídos do mar do Verão. A velha regra - peixes cinzentos no Inverno, peixes encarnados no Verão - já não se aplica. Anda tudo trocado.

É estranhíssima a sensação de estar no meio do Inverno numa esplanada cheia de sol, com uma temperatura de vinte graus, a beber vinho branco e a comer peixe de Verão com salada, a ver andorinhas a voar sobre a praia. Quanto nos vai custar este anacronismo? Como é que a vamos pagar? Que futuro inferno se prepara para nós?

Anda tudo trocado e é a incerteza que se tem de reaprender. Despedimo-nos das poucas certezas com que facilitávamos a nossa vida. Tudo tem de ser pensado a partir do momento que surge. Em vez de dizer “nunca digas que desta água não beberás”, mais vale dizer directamente que sim, que é muito provável que se venha a beber esta água todos os dias, ao pequeno-almoço.

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