Ramos-Horta pede prisão para padre acusado de abuso sexual de crianças em Timor

O padre norte-americano voltou a viver na pequena aldeia no enclave do Oecusse onde é acusado de ter cometido os abusos. Caso está a ser investigado.

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Ramos-Horta LUSA/MANUEL DE ALMEIDA

José Ramos-Horta pede que as autoridades de Timor-Leste prendam um padre norte-americano acusado de abuso sexual de crianças no seu país, e a quem o Vaticano expulsou do sacerdócio. “A justiça deve ser feita. Não vou defender qualquer outra solução”, afirmou o antigo Presidente galardoado com o Prémio Nobel da Paz ao jornal Tempo Timor.

Em Fevereiro de 2018 a congregação Societas Verbi Divini (Sociedade Palavra Divina) recebeu informações que acusavam Richard Daschbach, um padre norte-americano a trabalhar no Orfanato Topu Honis, no enclave do Oecusse desde 1992, de abuso sexual de crianças.

Ainda segundo o Tempo, a Societas Verbi Divini (SVD) enviou de imediato para o local um seu dirigente regional com o objectivo de trazer o padre Richard Daschbach, de 82 anos, para Díli. Ao mesmo tempo, informou a polícia de Timor-Leste e o Vaticano das acusações e abria uma investigação própria. Porém, em Agosto de 2018, o padre demitiu-se da SVD e voltou para Kutet, a pequena aldeia do Oecusse onde está o orfanato, vivendo entre a comunidade onde terá cometido os abusos sexuais de crianças.

“É errado que tenha regressado [a Kutet]”, disse Ramos-Horta, acrescentando que ficou “atordoado” quando soube que o padre “tinha tido autorização para voltar” a Oecusse, “havendo razões e motivos legais para impedi-lo de lá estar e prendê-lo”.

Na semana passada, o Tempo revelou que o padre Daschbach teria sido afastado pela Congregação da Doutrina da Fé no Vaticano e que teria assumido a autoria dos crimes de que é acusado aos responsáveis da SVD. O jornal norte-americano National Catholic Reporter diz que foi expulso do sacerdócio.

No passado dia 11, o Presidente timorense, Francisco Guterres Lu-O, citado pela agência Lusa, manifestou-se “preocupado com o caso” e garantiu que a “justiça tomará conta” da situação.

Já o comandante da Polícia Nacional de Timor-Leste, Júlio Hornay, disse que o padre já tinha sido interrogado e que o caso está a ser investigado: “O processo ainda esta a andar. Já foi interrogado pela investigação criminal e o processo está a andar. Já falámos também com o Ministério Público sobre a situação.”

Ramos-Horta vai mais longe e pede “protecção policial” para as crianças da aldeia de Kutet. “São jovens timorenses, órfãos e pobres. Como podem eles fazer isso a pessoas que já são tão pobres, que vão a um local em busca de refúgio e abrigo, e depois são abusadas e ameaçadas...”, diz o também ex-primeiro-ministro sobre suspeitas de que as crianças podem estar a ser ameaçadas para nada contarem sobre os alegados abusos.

O galardoado com o Prémio Nobel da Paz 1996, que repartiu com Ximenes Belo, então bispo de Díli, defende que o Governo de Timor deveria “desenhar uma estratégia a longo prazo” para investigar se existem em Timor-Leste outros casos de abuso sexual de menores por membros da igreja.

Segundo o Tempo, o padre Daschbach, natural de Pittsburgh, nos Estados Unidos, vive em Timor-Leste desde 1966 e, em 1992, estabeleceu duas casas de abrigo de crianças, a Topu Honis, em dois espaços no enclave de Oecusse.

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