Cristas justifica moção de censura: “Governo está esgotado, sem ambição e sem programa”

Líder do CDS convocou jornalistas para explicar as razões de uma moção de censura que será debatida e votada na próxima quarta-feira, dia 20 de Fevereiro.

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Assunção Cristas em conferência de imprensa, esta sexta-feira LUSA/ANTÓNIO COTRIM

Em vésperas de uma remodelação governamental, Assunção Cristas argumenta que o “Governo está esgotado” e apresenta uma moção de censura ao executivo. Nos motivos que invoca para tentar derrubar o Governo, a líder do CDS-PP junta várias razões, umas mais antigas outras mais recentes como a contestação social. E é assumido que desafia o PSD a ir a jogo.

"Hoje o ilusionismo chegou ao fim. Já não há propaganda capaz de disfarçar a realidade", disse ontem a líder do CDS-PP, em conferência de imprensa, na sede do partido, para divulgar a moção de censura que já foi entregue no gabinete de Ferro Rodrigues. É a segunda nesta legislatura. 

O PÚBLICO questionou o PSD sobre a sua posição relativamente ao anúncio do CDS, mas Fernando Negrão nada adiantou relativamente ao sentido de voto do partido. O líder parlamentar social-democrata reconheceu apenas que "há muitos motivos para criticar o Governo". Tal como aconteceu em 2017, PCP, Bloco e PS já anunciaram o voto contra.

Assunção Cristas também sustentou a censura ao Governo no que diz ser a deriva ideológica da esquerda, em particular na saúde, acusando o Governo de querer "acabar com a ADSE”. Afirmou ainda que o investimento público está em “mínimos históricos”, e que esse facto se tornou evidente na ferrovia.

A líder do CDS-PP apontou ainda as “baixas” taxas de execução dos fundos comunitários, lembrando ainda que a “tendência de abrandamento económico” não está a ser contrariada com medidas por parte do Governo. “O Governo falha às pessoas, na dimensão social, no investimento, na economia e falha na soberania e segurança dos portugueses”, acusou.

Governo paga "preço de não cumprir as promessas"

Perante alguns dirigentes do seu núcleo próximo, a líder do CDS-PP endureceu o discurso contra o Governo, acusando-o também de não conseguir suster a contestação social. “O Governo está hoje a pagar preço de não cumprir as promessas que fez, gerando forte desânimo e minando a paz social”, disse, apontando uma crítica geral: “Todo este período constituiu uma oportunidade perdida. O que corre bem no país é 'apesar do Governo', e não 'graças ao Governo'.”

Um dia depois de ter recebido uma delegação de sindicatos de professores e representantes dos hospitais no Parlamento – para evidenciar a falta de diálogo por parte do executivo – Assunção Cristas observou que o Governo “cria problemas, mas é incapaz de encontrar soluções”, e está “desorientado, desconcertado, sem ambição e sem programa”. 

Questionada sobre se informou previamente o Presidente da República sobre a moção, Assunção Cristas disse ter dado “nota” da iniciativa antes de a divulgar. Sobre a posição do PSD no Parlamento, a líder dos centristas assumiu que este é “um momento de clarificação” tanto para os partidos da esquerda do PS como para o PSD que terá também a “oportunidade de se juntar ao CDS”. É também a pensar em eventuais dúvidas dos sociais-democratas sobre que posição assumir no dia da votação no Parlamento que o CDS avança com esta iniciativa a oito meses do fim da legislatura. 

Apesar de o Governo do PS ter apoio nas bancadas à sua esquerda, que não deixarão cair o executivo de António Costa, Assunção Cristas diz que “é preferível ir para eleições do que ter um Governo que não governa, e que está fragilizado”. Até a remodelação que o primeiro-ministro prepara no executivo é desvalorizada: “A própria remodelação governamental já não é um exercício de governação, mas uma mera conveniência eleitoral e de propaganda que nada acrescenta.”

Em três páginas e meia, o texto da moção de censura – que deverá ser discutido na próxima semana – refere-se à ruptura da paz social e a um primeiro-ministro “perdido” e a um “Governo limitado pelas amarras que a sua criação determinou”. A contestação social é um dos motivos que o CDS apresenta para avançar com a censura. “Só em 2018, no sector público, foram entregues 260 pré-avisos de greve, o número mais elevado da década. Em 2019, só no primeiro mês e meio do ano, já foram entregues 112 pré-avisos de greve”, lê-se no texto.

Se a ausência de reformas e o caso “gritante” de desinvestimento na saúde são, para o CDS, motivos para censurar o Governo, que têm estado na agenda do partido, o texto da moção recorda ainda o agravamento da carga fiscal e deixa um alerta: “Não estamos devidamente preparados para enfrentar uma nova crise económica”. A oito meses das legislativas, o CDS aproveita, agora, uma janela de oportunidade para se colocar na agenda mediática num fim-de-semana com convenções do PSD e do PS.

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