Arquitectos querem que a educação para a arquitectura chegue às escolas

Secção Regional Sul da Ordem dos Arquitectos organiza conferências e workshops para mobilizar os seus profissionais, pais, professores e também as crianças e os jovens para a arquitectura.

Foto
Na Casa da Arquitectura, em Matosinhos Andre Rodrigues/Arquivo

Tudo começou em casa de Paula Torgal – arquitecta, professora e presidente da Secção Regional Sul da Ordem dos Arquitectos (OA-SRS). O filho mais novo, ainda no secundário, envolveu-se na defesa do património arquitectónico da sua escola e, das conversas à mesa de jantar, a mãe percebeu que os jovens da idade do filho sabiam muito pouco sobre o tema, mas não eram os únicos. “A educação em arquitectura não pode ser só dirigida às crianças, mas também aos professores”, acredita. A partir dessa ideia, nesta sexta-feira e no sábado, decorre um seminário sobre o tema, em Lisboa. Chama-se PuEmA - Por uma educação em arquitectura e é uma organização da OA-SRS.

A educação em arquitectura pode começar logo no pré-escolar, defende Paula Torgal. Desde 2017 que a OA-SRS organiza ateliês para os mais novos, a que chama oficinas criativas. Primeiro começaram por vir os arquitectos com os seus filhos, entre os 5 e os 10 anos, depois outro público que se preocupa com o espaço em que vivemos. Mas há outras experiências quer em Portugal quer no estrangeiro, como em Barcelona, onde o colectivo Globus Vermell – ao qual Joan Vitória i Codina pertence e sobre o qual falará no sábado – funciona. 

Foto
Paula Torgal numa das oficinas que a OA-SRS promove para os mais novos DR

“O objectivo principal é mostrar [às crianças e jovens] a mais-valia de um arquitecto na sociedade. Todos reconhecem as profissões de médico e de advogado, nós temos dois prémios Pritzker [Siza Vieira e Souto de Moura], todas as semanas somos premiados, lá fora ou cá dentro, e a sociedade continua sem perceber o que faz um arquitecto. Esse reconhecimento tem de ser feito através da educação”, defende Paula Torgal ao PÚBLICO.

A OA-SRS quer aproveitar a flexibilidade curricular, que permite às escolas aderir a projectos para “chamar a atenção para este tema” através dos laboratórios criativos. “É um tema que não acarreta peso académico”, salvaguarda. O projecto arranca já no próximo ano lectivo em pelo menos uma escola, assegura a presidente, mas o desejo é chegar a mais. “É um projecto que tem pernas para andar”, exclama, lembrando que no seminário estará uma representante do Ministério da Educação (ME), a coordenadora da Equipa de Educação Estética e Artística da Direcção-Geral da Educação, Carla Rosa.

Questionado pelo PÚBLICO sobre se há algum acordo entre o ME e a OA-SRS, o gabinete de imprensa de Tiago Brandão Rodrigues responde: “No âmbito do reforço ao Complemento à Educação Artística, introduzido na alteração legislativa sobre o currículo, pretende-se promover a área de competência Sensibilidade Estética e Artística prevista no Perfil dos Alunos. Para isto, prevê-se trabalho sobre todas as formas de expressão artística, o que está a ser reforçado por via do Programa de Educação Estética e Artística.” 

Mas Paula Torgal está entusiasmada com a perspectiva de chegar às escolas e avança que, no final do seminário, será feito o desafio aos professores, escolas, mas também às associações e colectividades. “Queremos que venham até nós para apresentar projectos, para o pré-escolar e ensino básico, para trabalhos multidisciplinares [que envolvam] pedagogos, professores, arquitectos. E ter também um objectivo mais vasto, fora do contexto escolar”, explica, concluindo que “dia 16 [sábado] é o ponto de partida e não o de chegada” para este projecto de educação em arquitectura.

Sugerir correcção
Comentar