Direita recusa atacar governador na nova comissão de inquérito à CGD

Os partidos estão unidos na necessidade de apurar responsabilidades sobre o que aconteceu na Caixa Geral de Depósitos, mas PSD e CDS não querem que o foco sejam as responsabilidades de Carlos Costa.

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Terceira comissão de inquérito à CGD vai avançar Rui Gaudencio

Da direita à esquerda - sem contar com o PCP, que se mantém contra e diz já terem sido apurados os responsáveis - todos os partidos querem partir pedra para encontrar quem teve a responsabilidade política e civil na gestão da Caixa Geral de Depósitos, mas dividem-se na hora de apontar o dedo ao Banco de Portugal.

As intervenções desta tarde no debate sobre a constituição da comissão de inquérito à gestão da CGD de 2000 a 2015 foram curtas e serviram para clarificar o que divide os partidos. PSD e CDS focaram as palavras na necessidade de se encontrarem os responsáveis, sem "bloqueios" nem "intocáveis", mas também sem "alvos de estimação", disse o deputado social-democrata Duarte Pacheco.

O social-democrata referia-se ao pedido de exoneração do governador do Banco de Portugal pedido pelo Bloco de Esquerda. "Não há intocáveis neste processo nem pode haver conclusões pré-feitas nem alvos de estimação. Não vamos aceitar bloqueios, nem que escolham focar em responsáveis parciais para que os verdadeiros responsáveis possam ficar escondidos dos portugueses", disse Duarte Pacheco. 

Esconder foi também o verbo utilizado por João Almeida, do CDS, o primeiro a intervir, uma vez que foram os centristas a avançar com o pedido para que fosse constituído um inquérito parlamentar à gestão do banco público. "Estamos a tempo, ainda, de lidando com novos dados, exigir responsabilidades a todos os que as têm. Não vamos permitir ajustes de contas ou comissões de inquérito direccionadas apenas para uma parte do problema. Não é só sobre o Banco de Portugal, mas também sobre Banco de Portugal", até porque, referiu, centrar o foco no supervisor, seria "útil aos administradores" responsáveis que se poderiam "esconder" atrás dessa cortina.

Na resposta, a deputada Mariana Mortágua insistiu na ideia que o partido quer apurar "quem foram os responsáveis" pela aprovação de créditos ruinosos para o banco público e se essas aprovações são "resultado de incompetência ou de pressões políticas ou de grupos privados", mas não deixa cair a ideia que o governador do Banco de Portugal está fragilizado, porque se autofragilizou. "O Banco de Portugal é o banco dos bancos, que supervisiona todos os bancos do país – se há pessoas que têm de estar disponíveis para avaliar a sua idoneidade, o governador é uma delas", começou por dizer. "O governador deixou de ter condições a partir do momento em que o BdP nos disse que não ia avaliar a sua idoneidade". "Se a única forma de ser avaliado é deixar de ser governador, então deixe de ser governador", insistiu.

O PS, pela voz do deputado João Paulo Correia, não entrou neste assunto, referiu apenas que é preciso avaliar tudo, incluindo a recapitalização de 2012 levada a cabo pelo anterior Governo e insistiu na ideia que, por parte dos socialistas, se pode "esperar justiça, trabalho exigente e rigoroso sem olhar a quem".

Quem destoa desde o início é o PCP, que insiste que os responsáveis pelo que se passou na CGD são conhecidos e passam pelos vários partidos. Neste debate, que antecede a aprovação da criação da comissão de inquérito, o deputado Duarte Alves lembrou que nenhum dos bancos privados sofreu três inquéritos parlamentares estando em actividade e que o partido tudo fará para que o banco público não saia prejudicado. "Não damos para este peditório", referiu o deputado.

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