Tensões geopolíticas e desafios globais

Os líderes mundiais terão de perceber a responsabilidade comum pelo futuro da civilização humana.

Neste século, o possível mundo novo está ainda por compreender. Um mundo imprevisível, complexo, tirânico e conflituoso pleno de ganância – “globalização da indiferença” – e irracionalidade. Todos os seres humanos merecem igual dignidade.

Vivemos hoje numa época em que a globalização desregulada tem vindo a provocar aumento de conflitualidade num sistema internacional em transição onde se antecipam alterações nos alinhamentos e equilíbrios geopolíticos e no ambiente de segurança com crescente instabilidade.

Trump e Putin estão a desconfigurar a ordem global. Só unida a UE pode ser influente na definição duma nova ordem, baseada nos princípios do humanismo, da dignidade, da tolerância e da cooperação entre os povos. A nova era pós-Trump está a promover uma revolução política – sem ideologia definida – com impacto na alteração da ordem mundial e ordenamento jurídico internacional.

A leitura da ordem mundial actual exige o conhecimento das diferentes etapas de relacionamento entre os Estados, seja na Europa, na Ásia ou no Médio Oriente. Caminhamos para uma ordem multipolar. A longo prazo é previsível que o Brasil, Japão e Índia façam parte dessa ordem.

O mundo enfrenta um número crescente de desafios complexos – desde o crescimento global lento e a desigualdade económica até às alterações climáticas, às tensões geopolíticas e ao ritmo acelerado da Quarta Revolução Industrial. De forma isolada, estes são desafios assustadores e, encarados de forma simultânea, teremos sérias dificuldades em enfrentá-los.

Nunca existiu uma necessidade tão grande de recorrer a uma abordagem em conjunto para enfrentar os riscos globais, que se estão a intensificar, mas a vontade colectiva de enfrentá-los parece estar a esmorecer.

As ameaças que têm maior probabilidade de acontecer incluem desastres naturais, mitigação das alterações climáticas e eventos meteorológicos extremos. Ou seja, de todas as ameaças, aquelas que têm maior probabilidade de acontecer estão relacionadas com o meio ambiente. São ainda de incluir o roubo e manipulação de dados, ciberataques, desastre ambientais causados pelo Homem, migração involuntária a grande escala, escassez de água e bolhas de activos numa economia mundial.

A curto prazo, essas tendências globais aumentarão a ameaça representada por todos os tipos de terrorismo e conflitos assimétricos de actores estatais e não-estatais que afectarão a ordem internacional e o equilíbrio global de poder.

Os principais riscos de longo prazo são geopolíticos e provenientes da Rússia, China, Médio Oriente e do ciberespaço. A Rússia continua a ser uma potência nuclear com capacidade para projectar força em qualquer zona do mundo.

Há coisas que jamais poderemos alterar: a geografia e a história dos povos. O erro histórico do Ocidente foi ignorar a Rússia com o estatuto de potência que se quer afirmar e a geografia lhe confere ao agir pela geopolítica, o que faz prevalecer um arco de instabilidade que se estende da Europa ao Norte de África.

Os próximos anos apresentam-se como potencialmente muito turbulentos com os conflitos entre potências e entre classes. E com tensões exacerbadas, num período marcado, entre outras coisas, pelo “Brexit”, as eleições europeias e a guerra comercial entre os EUA e a China.

Por outro lado, a actual crise nas relações entre o Ocidente/NATO e a Rússia são um momento definidor de um novo relacionamento entre todos os actores políticos do espaço euro-atlântico e constitui o mais importante desafio estratégico das últimas décadas. A alteração do paradigma da confrontação pela confiança e convergência é um desafio para os estadistas.

O confronto geopolítico gerado pelos EUA, Rússia e China tem duas opções: o aumento das tensões interculturais e sua eventual transformação num conflito aberto ou o aprofundamento do diálogo civilizado e confiança mutua a fim de promover a compreensão e convergência entre a Rússia-China e o Ocidente.

Os líderes mundiais terão de acabar, na prática, e não apenas usando palavras, com o egoísmo nacional e perceber a responsabilidade comum pelo futuro da civilização humana.

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