Rússia adverte EUA contra qualquer “recurso à força” na Venezuela

Moscovo já tinha acusado Washington de procurar um pretexto para intervenção militar na Venezuela, país onde moram 300 mil portugueses e lusodescendentes.

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O ministro dos Negócios Estrangeiros russo, Sergei Lavrov Reuters/DJORDJE KOJADINOVIC

O chefe da diplomacia russa, Serguei Lavrov, advertiu o seu homólogo norte-americano, Mike Pompeo, contra qualquer “recurso à força” na Venezuela, indicou a diplomacia russa.

“Lavrov alertou contra qualquer ingerência nos assuntos internos da Venezuela, incluindo o recurso à força que Washington tem ameaçado em violação do direito internacional”, num contacto telefónico feito nesta quarta-feira, indicou em comunicado o ministério russo dos Negócios Estrangeiros.

Previamente, Moscovo já tinha acusado Washington de procurar, com a proposta de resolução sobre a Venezuela que apresentou ao Conselho de Segurança das Nações Unidas (ONU), um pretexto para uma intervenção militar.

O documento dos Estados Unidos "procura, de facto, encobrir as provocações com o envio de ajuda humanitária como meio de desestabilizar a situação na Venezuela e até mesmo obter um pretexto para uma intervenção militar directa" no país, referiu esta manhã Serguei Lavrov em conferência de imprensa.

"O Conselho de Segurança jamais aprovará tal decisão", realçou o chefe da diplomacia russa, após uma reunião com o seu homólogo finlandês, Timo Soini, anunciando assim o veto da Rússia à proposta norte-americana. Quanto à resolução sobre a Venezuela preparada pela Rússia, Serguei Lavrov sublinhou que o documento pretende "apoiar o diálogo nacional" naquele país.

Serguei Lavrov indicou que em breve irá realizar uma reunião com a chefe da diplomacia europeia, a italiana Federica Mogherini, para abordar a crise venezuelana, e também com o secretário de Estado norte-americano, Mike Pompeo, através de uma conversa por telefone.

Tanto os EUA como a Rússia são membros permanentes do Conselho de Segurança e ambos têm a capacidade de vetar a resolução da outra parte, de modo que nenhuma das propostas tem potencial para prosperar se ambas as potências não chegarem a um acordo prévio.

A crise política na Venezuela agravou-se a 23 de Janeiro, quando o líder da Assembleia Nacional, Juan Guaidó, se autoproclamou Presidente da República interino e declarou que assumia os poderes executivos de Nicolás Maduro.

Guaidó, 35 anos, contou de imediato com o apoio dos Estados Unidos e prometeu formar um governo de transição e organizar eleições livres.

Nicolás Maduro, 56 anos, no poder desde 2013, recusou o desafio de Guaidó e denunciou a iniciativa do presidente do parlamento como uma tentativa de golpe de Estado liderada pelos Estados Unidos.

A maioria dos países da União Europeia, entre os quais Portugal, reconheceu Guaidó como Presidente interino encarregado de organizar eleições livres e transparentes.

A repressão dos protestos antigovernamentais desde 23 de Janeiro provocou já 40 mortos, de acordo com várias organizações não-governamentais. Esta crise política soma-se a uma grave crise económica e social que levou 2,3 milhões de pessoas a fugirem do país desde 2015, segundo dados das Nações Unidas.

Na Venezuela residem cerca de 300.000 portugueses ou lusodescendentes.

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